Por Malu Gaspar, de O Globo – Quem acompanhou de perto o desenrolar da crise que quase derrubou do cargo o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, não entendeu a guinada no comportamento do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Depois de passar dias fustigando Prates tanto publicamente como nos bastidores do governo, Silveira recuou e passou a elogiar o CEO da estatal, diminuindo a pressão por sua saída.
Em uma entrevista coletiva na quarta-feira (9), ele disse ter o “mais profundo respeito e admiração” pelo presidente da Petrobras. “Tenho carinho e profundo respeito pelo ser humano que ele é.”
Aos aliados que o questionaram sobre a razão dessa guinada, o ministro não deu nenhuma explicação mais aprofundada. Mas os movimentos em torno dele nos últimos dias não passaram despercebidos – especialmente os do presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Patrocinador político da indicação de Silveira para o ministério de Lula, Pacheco falou diretamente com ele para puxar o freio e parar com as pressão sobre Prates, no início da semana. Também aproveitou uma reunião com o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) para dizer que ele, Pacheco, considerava o trabalho de Prates bom e que não via razões para a troca.
Àquela altura, vários senadores tinham pedido a Pacheco para pedir que poupassem o presidente da Petrobras. Um deles com peso especial – Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), talvez o mais próximo aliado de Pacheco na Casa e seu potencial substituto na presidência do Senado.
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No caso de Alcolumbre, nem tão antigos assim. O senador pelo Amapá e o presidente da Petrobras são aliados na disputa interna do governo pela liberação da exploração de petróleo na Margem Equatorial brasileira, em alto-mar no território amapaense.
Pesou, ainda, na disputa, o mal-estar gerado por um “dossiê” que circulou via WhatsApp com uma relação de “promessas não cumpridas” de Prates em relação a outros integrantes do governo. Divulgada pelo repórter Caio Junqueira na CNN Brasil, a lista foi classificada como “jogo pesado” até mesmo entre aliados mais próximos de Silveira em Minas Gerais, que passaram a temer os efeitos de um revide do próprio Prates contra o grupo deles no governo.
Nos bastidores, Pacheco e esses aliados chegaram à conclusão de que, como Lula estava demorando a definir a situação do CEO da Petrobras, Silveira corria o risco de ficar sozinho em uma guerra de dossiês e acusações no governo, com consequências imprevisíveis.
Pareceu a Pacheco que Silveira estava arriscando demais ao seguir a linha que o próprio Lula lhe indicara antes de o ministro dar entrevista à Folha de S. Paulo admitindo o conflito com Prates e dizendo que não abriria mão de sua autoridade como ministro sobre a estatal.
Depois das declarações do ministro, Prates deu outra entrevista, à colunista Mônica Bergamo, da Folha, anunciando que ia pedir a Lula uma audiência para questionar o presidente sobre sua situação na Petrobras. A atitude foi muito mal recebida pelo presidente, que não gosta de ser emparedado, e até hoje não recebeu Prates.
Ainda assim, auxiliares de Lula afirmam que a permanência do CEO no comando da empresa é mais provável hoje do que na semana passada. E que também pesou bastante nessa equação o esforço do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que teve duas reuniões com o presidente da República desde o início da crise para falar do abalo na petroleira e da discussão sobre o pagamento dos dividendos extraordinários, que ainda estão pendentes de uma resolução.
Haddad prefere Prates a Silveira e mais ainda a Aloizio Mercadante, cotado para comandar a Petrobras caso Lula realmente decida trocar seu presidente.
A pressão do mercado financeiro, que também não vê Mercadante com bons olhos – e vê a possibilidade de uma troca de comando representar um avanço do intervencionismo do governo sobre a companhia – , também teve um efeito significativo. A própria crise na empresa, criada por uma disputa de poder entre os membros da gestão Lula, também assustou os investidores que detêm grandes lotes de ações da companhia.