Da Folha de SP – O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou à Folha que rompeu com o líder do PT na Casa. “Não tenho mais interesse em ter nenhum tipo de relação com o deputado Lindbergh Farias”, declarou.
O tensionamento entre os dois políticos pode acentuar o desgaste na relação do governo Lula (PT) com a Câmara, num momento em que há atritos também do Palácio do Planalto com o Senado. De acordo com dois líderes da Casa próximos a Motta, a relação entre os dois, agora, será meramente institucional.
Nos últimos meses, o grupo do presidente da Câmara se queixava da atuação de Lindbergh, acusando-o de se exaltar nas discussões e buscar desgastar a imagem da Casa junto à opinião pública. A cúpula da Câmara também critica o comportamento do deputado nas reuniões semanais com líderes e Motta, afirmando que ele atua como se fosse líder do governo, quando deveria responder só pela bancada do PT.

O petista é um dos deputados mais atuantes na defesa do governo e de suas pautas na Casa e tem usado publicações nas redes sociais e falas na tribuna para fazer essa disputa política.
Em resposta, Lindbergh afirmou à Folha que considerou a declaração como uma reação “imatura” de Motta. Ele disse ainda que “política não é um clube de amigos” e que suas posições políticas sempre foram conhecidas.
“Considero imatura a posição do presidente Hugo Mota. Política não se faz como clube de amigos. Minhas posições políticas são transparentes e previsíveis. Sempre atuei de forma clara e com posições coerentes, nunca na surdina e erraticamente como agiu o presidente da Câmara na derrubada do IOF [Imposto sobre Operações Financeiras], na PEC da Blindagem e na escolha de [Guilherme] Derrite como relator de um PL de autoria do Poder Executivo”, disse o petista.
“Se há uma crise de confiança na relação entre e o governo e o presidente da Câmara, isso tem mais a ver com as escolhas que o próprio Hugo Motta tem feito. Ele que assuma as responsabilidades por suas ações e não venha debitar isso na minha atuação como líder do PT”, seguiu.
A discussão do projeto de lei antifacção, aprovado na Câmara na semana passada, acentuou o desgaste na relação de Motta com Lindbergh, dizem aliados do parlamentar. Integrantes da cúpula da Câmara se queixam, sob reserva, da atuação do governo e de seus ministros na tramitação da matéria, acusando-os de incentivar ataques à Casa e do que consideram “narrativas” acerca do conteúdo do texto.
Motta escolheu como relator do projeto enviado pelo Executivo —e apontado como principal resposta de Lula à crise na segurança pública após megaoperação no Rio— o deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de Segurança do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, considerado o potencial adversário do petista em 2026.
A decisão do presidente da Câmara gerou contrariedade entre integrantes do Planalto e tensionou o debate da matéria. O relator fez uma série de mudanças ao texto que foram criticadas pelo governo federal. Diante disso, o Executivo orientou votação contra a proposta, mas acabou sendo derrotado. O texto, agora, está em análise pelo Senado.
O próprio Motta falou publicamente do descontentamento em entrevistas e publicações nas redes nos últimos dias.
Um líder do centrão diz que, hoje, o clima entre os parlamentares e o Planalto é muito ruim, citando também o que classifica como acordos não cumpridos do Executivo —na redistribuição de cargos, na baixa execução orçamentária e em relação às matérias em discussão na Casa.
Esse parlamentar prevê maior tensionamento nos próximos dias. Aliados de Motta negam, no entanto, que haja um rompimento com Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais), responsável pela relação entre Executivo e Legislativo, mas afirmam que a relação do parlamentar com a ministra também foi abalada.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), é apontado por líderes do centrão como um nome que atua para distensionar a relação da cúpula da Casa com o Planalto.
Motta assumiu a presidência da Câmara no começo deste ano, após conseguir apoio de quase todos os partidos da Casa, indo do PT ao PL. Lindbergh e Gleisi foram alguns dos entusiastas do apoio do partido e do governo à candidatura de Motta e trabalharam para viabilizar essa aliança.
De lá para cá, no entanto, a relação do Palácio do Planalto com a Câmara foi de altos e baixos, marcada por um sentimento de desconfiança mútua. Episódios como a derrubada de decreto presidencial do IOF (Imposto Sobre Operações Financeiras) pelos deputados, a decisão de não avançar com MP (medida provisória) que aumentava impostos e, mais recentemente, a tramitação do projeto de lei antifacção desagradaram o governo.
Em abril do ano passado, o então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anunciou rompimento com o então ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Naquela ocasião, o deputado disse que Padilha era seu “desafeto pessoal” e o chamou de “incompetente”. Lula decidiu manter o ministro no cargo mesmo assim.








