*Por Romildo Gastão — Na história da arte, os museus, galerias e mais recentemente as instituições culturais privadas e os centros culturais públicos, tem um papel importante para a difusão e comercialização de obras de arte.
Desde que iniciei minhas atividades no mundo da arte e das pesquisas sobre artistas, percebi como é importante buscar um contato maior e mais próximo com a obra de arte. Esse contato pode acontecer através da visita aos museus, galerias, centros culturais e o ateliê do artista, além de uma conversa com o artista diretamente através das redes sociais. Sem dúvidas, visitar pessoalmente todos os artistas que gostamos ou são importantes seria o ideal.
A comunicação através de uma conversa “olho no olho”, ter sinergia com o artista, é sem dúvida o melhor meio de comunicação e aproximação. No entanto, parece uma tarefa quase impossível, porque os artistas não residem na mesma cidade e assim representaria um tempo grande dispendido, além de enorme despesa financeira. Ainda seria uma tarefa difícil porque havendo capacidade para tal empreitada, nem todos os artistas apreciam receber visita no seu local de trabalho e as redes sociais ainda não são acessíveis para todos os artistas e nem confiáveis para o público.

Assim como ser artista exige uma vocação ou aptidão, da mesma maneira acontece na atividade comercial, onde é necessário gostar de vender, ter paciência, flexibilidade e capacidade de negociação. Concordo que na vida podemos aprender a fazer tudo. Agora faltaria tempo para fazermos de tudo um pouco ao mesmo tempo e com excelência. Penso também que seja uma tarefa difícil para o artista pensar, estudar, fazer experimentos e criar, ter uma vida social cultural e ao mesmo tempo administrar comercialmente sua carreira.
Dentre outras razões, é que existe a figura da galeria e do galerista e sua importância para o artista, o colecionador, o publico e os museus. Devemos reconhecer e fazer justiça que muitos artistas consagrados na história da arte só alcançaram reconhecimento e sucesso através de um agente comercial que promoveu a obra junto ao público em exposições, feiras, catálogos e críticas justas e honestas favoráveis de renomadas personalidades do mundo da arte.
Na relação entre o artista e o galerista, são conhecidos os conflitos que envolve discussão, principalmente sobre o valor da obra de arte e sobre comissão. Todos se queixam de todos. Existe um pouco de razão e verdade nas queixas recíprocas. Os artistas se queixam de que são manipulados e explorados pelas galerias, as vezes de maneira desumana. Por outro lado, as galerias afirmam que precisam conviver com o humor inconstante, irresponsabilidade e falta de profissionalismo de alguns artistas. Existe um risco investindo tempo e dinheiro na carreira do artista, afirmam os galeristas. Quando ocorre o reconhecimento do artista pela crítica e pelo mercado, estes mudam de galeria como quem troca de roupa.
É verdade que também tem galerista que pensa ser dono do artista e procura controlar todos os seus passos e até intervir no seu processo criativo. Com certeza essa situação é ruim para o artista e para a galeria. Essa relação estressante pode prejudicar e até bloquear o processo criativo do artista. Por outro lado, não é justo que a galeria esteja sempre a disposição de satisfazer as necessidades do artista, inclusive as financeiras, as vezes sem nenhuma contrapartida. Além do forte componente psicológico, a atividade artística é sujeita as oscilações do mercado, que é volúvel. Por isso é usada a expressão mercado de arte e como todo mercado de compra e venda, alterna períodos de altas e baixas.

A relação entre o artista e o galerista é um contrato comercial de trabalho sujeito a conflitos, de altos e baixos no dia a dia devido a circunstâncias peculiares que envolvem o trabalho criativo artístico. Alterna momentos de muita sintonia e também de discórdia e conflitos. Conflitos que provocam mágoas recíprocas. Como em toda relação, para ser duradoura, exige maturidade, tolerância, paciência, renúncia e muita compreensão das partes. No entanto é preciso reconhecer que na maioria das vezes é uma relação de solidariedade e apoio nos momentos de dificuldade, onde a união vence os obstáculos e dificuldades.
Apesar de sua natureza jurídica comercial, a galeria também possui um caráter cultural difusor da arte, através da realização de exposições, onde são realizados palestras e debates. A galeria está para a arte assim como a livraria está para o livro. A galeria DeCuratours em Brasília, por exemplo, tem uma função mais cultural do que comercial. Essa galeria é um equipamento cultural que promove artistas talentosos que ainda não tem reconhecimento por falta de oportunidade. Apesar de algumas distorções, erros e apadrinhamentos de artistas, as grandes galerias tem custos financeiros altos ao investirem em estruturas físicas caras e possuírem uma equipe técnica de especialistas experientes, curadores e críticos de arte qualificados para selecionar e ajudar na carreira dos artistas.
Nos países mais pobres, a galeria de arte ainda é um espaço ou equipamento para o desenvolvimento das artes e tem importância cultural na vida de uma cidade. Nesses países, principalmente na África, a galeria de arte, é algo mais que um mero centro para comercializar pinturas e obras de arte, sendo também o espelho do caráter da nação, da comunidade ou do indivíduo.
Para a renomada galerista Luísa Strina, um bom galerista precisa saber administrar a vida profissional do artista: onde vender, em que coleção colocar a obra, para que museu vender, discutir preço com o artista e coordenar a agenda dele, em eventos como as feiras de arte nacional e internacional.

Mesmo grandes colecionadores e investidores consideram importante a existência das galerias. Para o colecionador João Carlos de Figueiredo Ferraz, é necessário valorizar a galeria, porque ela é um elo importante no sistema das artes. A galeria funciona como um ponto de encontro entre o colecionador e o artista. João Carlos diz que poderia comprar diretamente do artista, mas que prefere prestigiar a galeria.
Por outro lado, a chegada da internet provocou significativa e profunda mudança no modelo do negócio Galeria de arte. A arte está globalizada. O debate sobre o uso das redes sociais como galerias, loja ou plataforma expositiva do artista acontece e deve ser aprofundado no mundo da arte. As consequências do impacto das redes sociais sobre o mundo da arte deverão ser conhecidas a médio prazo.
Na realidade atual globalizadas das redes sociais, pesquisas indicam que as galerias estão realizando negócios mais em função do nome e prestígio do artista do que o conceito da galeria. No entanto não são todos os artistas que conseguem se destacar no mundo digital. Artistas que possuem um projeto de internet competente, organizado e permanentemente atualizado, pode ter um grande número de seguidores. Para as grandes galerias, a mudança em curso em função da internet não é tão difícil e está sendo realizada. No entanto as médias e pequenas galerias não possui capital suficiente para realizar essa rápida transformação que o mercado exige. Entendo que para evitar o risco de extinção, é urgente as galerias se recriarem e repensar sua relação com o artista. Se reinventarem na realidade da internet e das redes sociais é fundamental, onde a quantidade de artistas no mercado nunca foi tão grande, o volume dos negócios se aceleraram e a redução de custos é uma medida necessária.
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*Romildo Gastão é curador e colecionador.







