“O câncer se nutre da tristeza”,
Como sempre, acompanhava Dorany Sampaio em suas viagens como superintendente da Sudene. Numa das idas a Brasília, tivemos um encontro com Cristina Tavares Correia, que lutava contra o câncer. Ela admitia que choques traumáticos, decepções profundas, agressões ao comportamento tinham a ver com a doença.
“Sentia que meu corpo reagia, quando votava a favor de um projeto que eu não acreditava. Era como se ele quisesse me dar um recado”.
Ao extravasar o que sentia, ela deixava claro que muitas vezes, por orientação do partido, votava contra sua consciência. Era uma agressão ao seu corpo. Era uma mutilação do seu modo de pensar.
Essa conversa nunca saiu da minha cabeça. Só às pessoas íntimas narrava a interpretação de Cristina sobre o ataque do câncer.
Começo a refletir sobre a doença, após realizar exames de PSA, ultrassonografia, ressonância magnética, biópsia e, por último, uma espécie de DNA das células extraídas na biópsia.
Câncer no estágio inicial. Tive um choque na manhã de ontem ao receber o resultado de Mônica, minha “sobrinha”. (Sobrinha, na realidade, da minha ex-mulher).
De imediato passei um ZAP para Azenete, Giselda e Fernanda, minha sobrinha, filha do meu irmão Fernando. Elas, e mais minha sobrinha adotiva Mônica, são minhas anjas.
E daí, Eduardo? Nós últimos 17 anos, tive muitas decepções, ingratidão de quem menos esperava, mesquinharia de quem eu pensei que pudesse contar com um apoio. Foram baques para mim, numa idade em que os caminhos para o recomeço são mais difíceis
O corpo não aguenta repuxo, as passadas não ajudam na transposição dos obstáculos.
Espero, com meus 76 anos, às vésperas dos 77, ultrapassar essa fase e ainda propiciar alegria aos que me cercam.
Cristina Tavares Correia, você tinha razão. O câncer nasce das decepções e se nutre da tristeza.
________________
Eduardo Ferreira é jornalista