Por Ricardo Antunes — Atualmente exercendo a Secretaria de Imprensa de Goiana, mesmo sem ser jornalista, e com um salário de R$ 10 mil Marcos Arraes tem uma atuação política focada nos bastidores. Pai da candidata ao Governo de Pernambuco, Marília Arraes, e filho do ex-governador Miguel Arraes, há quase 40 anos ele perambula entre indicações políticas, nomeações e polêmicas.
Em 1987, logo após seu pai se eleger governador pela segunda vez e “voltar pela porta que saiu”, Marcos mal esquentou a cadeira de chefe de gabinete no Palácio do Campo das Princesas. Arraesistas históricos narram confusões tendo Marcos como pivô. Uma das mais conhecidas envolvia o ex-governador Antônio Carlos Magalhães (ACM), que inclusive elencava o nome do filho de Arraes em sua tradicional lista de desafetos políticos. Marcos foi exonerado ainda no primeiro ano do governo, dando lugar a um jovem de 22 anos chamado Eduardo Henrique Accioly Campos, seu sobrinho, que viria a ser o verdadeiro herdeiro político do avô Miguel Arraes.
De todos os dez filhos de Arraes, foi um dos poucos a se envolver com política, até a entrada da irmã Ana, mãe de Eduardo, na vida pública. Atual ministra do Tribunal de Contas da União, indicada pela Câmara dos Deputados, Ana se elegeu federal em 2006 e foi reeleita em 2010. No ano seguinte, foi escolhida para a corte de contas. Reza a lenda que até a primeira disputa dela, todos os irmãos se gabavam por não ter entrado na política eleitoral.

Marcos e Eduardo viveriam uma relação tumultuada, em especial no terceiro governo de Arraes, em função do escândalo dos precatórios, que culminou numa derrota acachapante para Jarbas Vasconcelos, nas urnas em 1998. A família passou anos rompida, até a morte de Arraes em 2005 e a vitória de Eduardo Campos para o governo, no ano seguinte. Habilidoso, o neto costurou aliança, reunindo a geração dos Menudos de 1986 com os arraesistas históricos. Marcos seria contemplado com uma indicação para a Hemobrás.
Marcos foi nomeado para a Hemobrás, estatal da qual chegou ser presidente interino em 2016, após um escândalo que culminou no afastamento de dois diretores. Uma operação da Polícia Federal no ano anterior, por suspeitas de desvios de recursos na casa dos R$ 30 milhões, ficou marcada pela imagem de uma grande quantidade de maços de dinheiro sendo jogada do alto do prédio de onde morava o então diretor-presidente afastado, Rômulo Maciel Filho. Na eleição de 2014, quando deixou o PSB, Marcos descumpriu orientação partidária de deixar os cargos para apoiar a candidatura do sobrinho Eduardo, que viria a falecer no meio da campanha, vítima de um acidente aéreo. No vôo, também estava o jornalista Carlos Percol, cunhado de Marcos.
Na eleição de 2020, sua filha Marília foi ao segundo turno contra o primo de segundo grau, João Campos (PSB), que se elegeu prefeito do Recife. Um vídeo da véspera do segundo turno viralizou, com Marcos, depois de alguns goles a mais, garantindo que sua filha estava eleita. As pesquisas da véspera e até da boca de urna (realizada após o encerramento da eleição) davam uma vantagem pequena para ela. Abertas as urnas, João Campos venceu por 99 mil votos de diferença.