Por Ricardo Antunes
“Paulo Roberto, tudo bem?”, foi assim e sem dar qualquer tipo de “chance” ao meu interlocutor que não hesitei em levantar da cadeira para “provocar” aquele senhor elegante que adentrava ao hotel Transamerica para o merecido descanso depois de um dia de trabalho. Nosso último encontro não tinha sido ao acaso como agora. Foi no início década de 80 no vestiário do Internacional,quando, menino, fui buscar um autógrafo de um dos meus cinco ídolos que tive no futebol. O destino me colocava de novo frente a frente com ele, que talvez não tenha entendido o que eu queria dizer em outras palavras: “O Santa sempre foi grande”.
Sem querer verbalizar a frase óbvia, para mim, mas certamente esquecida para ele, tantos foram os desmandos e descaso com o meu clube fui por outro caminho. O da história, que é sempre indiscutível. “Há 40 anos você conquistava o seu primeiro campeonato brasileiro pelo Internacional. Mas seu primeiro título nacional não foi invicto você lembra porque?”, indaguei há pouco mais de 40 dias ao craque que reinou absoluto em Roma. “Não lembro”, respondeu ele que ,educado, parou por certo a pensar na abordagem incomum. Nada de selfie ou autógrafo. O assunto era sério. “Você perdeu por 1 x 0, gol de Pio, ex ponta esquerda do Palmeiras numa quarta chuvosa no Arruda”, relembrei a um dos cinco ídolos que tive no Futebol.”Bah, mas eu não devia ter jogado”, respondeu com um sorriso e sua habitual elegância, o simbolo máximo da geração maior de 82 que encantou o mundo na Espanha.

Era esse o Santa de minha infância e depois da adolescência. O Santa grande, poderoso, o “Terror do Nordeste “que ganhava do Flamengo, Palmeiras, Cruzeiro, Grêmio, lá fora, no campo deles. O Santa que em 1975 faria a final aqui ( contra o Inter de Falcão) e que fatalmente seria o primeiro Campeão Brasileiro do Nordeste, instituído em 1971. Pouca gente lembra mas a eventual final seria em um jogo apenas e como o tricolor tinha o maio número de pontos o regulamento nos dava a vantagem de jogar a final em casa e em um jogo só. Um arbitragem desastrosa e estranha de Romualdo Arppi Filho que nos garfou com um gol impedido do Cruzeiro nos tirou do título inédito. Pelo Youtube, os mais jovens podem ver imagens do jogo (ESPN) que uniu todo Pernambuco com bandeiras do Naútico, Sport, Central e América.
Uma semana antes, uma cena chamou a atenção de todo o Brasil com o Aeroporto dos Guararapes, ainda pequeno para receber o time comandado por Givanildo e Cia que, para desespero da crônica carioca, deu um banho no Fla, em pleno Maracanã, por 3 x 1 com dois gols de Ramon e um de Volney. Nunes, meus amigos, pasmem era reserva . Esse era o Santa Grande. Esse o nosso destino.
O Santa de Tará que nos deu o primeiro título em 1931, dos meninos do Pátio do Santa Cruz que o fizeram nascer em 1914. O Santa de Mainha (único vivo do timaço de 57), de Mirobaldo, do presidente Tofinha, de Rodolfo Aguiar, de Mariano Matos e de José Nivaldo de Castro.O Santa que aprendi a amar por conta do meu pai, “seu Biu”, “seu Antunes”com o amigo Arnaldinho. De Fumanchu, Volney, Mazinho, Ramon e Pio quando Nunes o “cabelo de fogo” ainda era reserva. O Santa de Gena, de Gilberto, de Luciano Maravilha, de Fernando Santana, de Betinho, de Carlos Alberto Rodrigues, de Django, de Dadá Maravilha. O Santa de Vanildo Ayres, de Edelson Barbosa, de Joca, de James Thorp, de Raimundo Moura e de tantos que não me lembro agora. O Santa de Lanzoninho, Anibal, Mituca, Cuica, Erb, de Rivaldo, de Detinho, de Sapatão. O Santa de Gradim, de Zé do Carmo, do diabo louro Gabriel. De Carlos Alberto Silva e do lateral Carlos Alberto Barbosa.
O Santa do negão “Pantera” na Geral do Arruda, de Ivanildo da Buzina, de Geraldo, da turma inesquecível da SANTAMANTE que fez história nas arquibancadas com seus bandeirões e faixas gigantes. O Santa de Paulo Suzano, de Rodrigo Moreda, de Giovanni Rattacaso, , de Eduardo Fontes, de Henágio, de Luiz Neto, de Birigui, de Ricardo Rocha. O Santa do “mestre” Waldomiro Silva, o Santa de “Pai Edu”,de toda Casa Amarela e da Zona Norte e Zona Sul. O Santa dos textos de Gilberto “Betoca” Prado, das palavras sensatas do professor Sylvio Ferreira, do escritor e bom tricolor, José Nivaldo Júnior e das críticas de Osmundo Bezerra. O Santa de Jacozinho e suas histórias. Da estratégia de Evaristo de Macedo, de Abel Braga, de Dadinho. De Wilton e de Gomes.
O Santa de Zé Neves fincando a bandeira tricolor no terreno do adversário, de Mirinda e João de Deus no futebol de Salão no Geraldão. De Antonio Luiz Neto, do motorista Cobrinha, de Caça Rato, de Denis Marques, de Alírio de Bartolomeu Bueno, de Catatau, dos dribles de Marlom da raça de Mancuso, dos gols de Grafitte e dessa turma boa jogando bola com raça; O Santa da Radio Coral de Henrique Santos, do Grupo Tricolores Amigos, do casal de amigos Marcos e Adriana, fundadores da “gloriosa”.
O Santa do artilheiro dos anos 50, Paraíba, do zagueirão Alfredo Santos, de Ivan, de Pedrinho, de Levi, de Lula e de Joãozinho. E de tantos outros craques que honraram essa nossa camisa. O Santa de Paulo Moraes, de Xico Sá, de João Valadares, de Gil Luiz Mendes, dos veteranos Lenivaldo Aragão , Ivanildo Sampaio e Alfredo Augusto Martinelli que tiveram a sorte de serem testemunhas da história e de quanto fomos grandes. E o que dizer de Ramon da Silva Ramos, artilheiro absoluto do Campeonato Brasileiro de 1973, que só não foi para Copa de 74 porque o Almirante Heleno Nunes fez lobby para Roberto Dinamite do seu time o Vasco?
O Santa de Noelia Brito, dos amigos do face “cumpadi” Diogenes Oliveira, de Giovani de Morais, Deise Aguiar, Sandro Rocha, de Alex Santos que esse ano foi para o Céu, dos grupos de internet, da moçada mais jovem como Natathaly Hadailiana e das garotas do”Fechados com o Santa”, de Alberes de Assis, da turma do “velho” “Nelsão”, De “Jesus Tricolor”, do povo da cadeira, das arquibancadas e os grupos de amigos que ficam nas sociais. O Santa de Capiba, de Dom Helder, de Chico Science e de Milton Neves.
O Santa de tanta gente sem nome, anônimos a levar os tijolos que ergueram o seu Mundão do Arruda.O Santa dos pretos, dos pobres, das moças, das putas, de todos os Morros, de Boa Viagem, das Vilas, das cores, dos amores e das lágrimas de alegrias. O Santa da paixão sem razão, que vira e mexe o coração, a voz presa na garganta rumo ao destino de ser, um dia, Campeão do Brasil.
O Santa de todos, o Santa do povo, o Santa Feliz.







