Por Ricardo Antunes – Foi num domingo, há exatos 50 anos. Bastava empatar na prorrogação que o Santa estaria na final contra o Internacional de Falcão e Cia, no Arruda. Mesmo palco onde já havíamos ganho do time que levantaria o primeiro título de um campeonato brasileiro para os gaúchos.
Poderia ser de Pernambuco, mas não foi. E só não foi porque, como nos conta o brilhante jornalista Paulo Moraes (veja depoimento, no final), o soprador de apito, Romualdo Arpi Filho, validou um gol completamente impedido do meia Zé Carlos.
E, aos 45, quando a partida já se encaminhava para a prorrogação, Nelinho deu um passe para o artilheiro, Palhinha e ele fazia 2 x 3, para tristeza dos mais de 40 mil tricolores.
Na sua coluna, na revista Placar, o correspondente Lenivaldo Aragão escrevia que um torcedor jogou um rádio de pilha no gramado.
Meninos, eu criança também vi, e chorei.
Como chorei ouvindo no rádio de pilha, três dias antes desse domingo, a vitória do Santa sobre o Flamengo por 3 x 1, em pleno Maraca com Zico, Júnior e tudo mais, com show de Ramon, além de 2 gols, um no primeiro e outro no segundo tempo, completando com um gol de Volney, que entrara no lugar de Mazinho, que saiu por contusão após uma jogada violenta do “maestro” Júnior.
E por que no rádio de pilha? O jogo só não foi transmitido pela Rede Globo porque aqui no Recife, jogavam Náutico X Ceub, de Brasília.
Mas tinha o “tape” do jogo de 23h30 e todo mundo assistiu embriagado de felicidade. Foi a primeira vez que um time nordestino chegava à semifinal do campeonato brasileiro de futebol, que teve início em 1971, com o Atlético-MG campeão, seguido de Palmeiras ( 72/73) e Vasco, em 1974.
Um time onde despontavam, Mazinho, Levi Culpe, Givanildo, Ramon da Silva Ramos (artilheiro do brasileiro de 73), Pio, Carlos Alberto Barbosa. Onde Nunes (ainda jovem) e Volney eram reservas, imaginem só.
Infelizmente, a atual diretoria do Santa Cruz perdeu o “time” dessa data histórica. O mesmo domingo de 50 anos atrás, uma coincidência que merecia ser colaborada e que não vai acontecer nunca mais com esse atores vivos.
Apresentei o projeto ao presidente Bruno Rodrigues. O documentário “Santa 75 Campeão do Brasil” iria entrevistar os principais personagens vivos daquela época, incluindo os craques dos timaços de Palmeiras, Flamengo e Inter, que a gente tinha derrotado. Falcão, Zico, Júnior, Leão e tantos outros.
E neste domingo, no Recife, parte do timaço viria ao Recife para um almoço que reuniria todos para um depoimento e para reviver os melhores momentos e imagens daquelas vitórias, como o 2 X 3, contra o Verdão, em pleno Pacaembu.

Tudo registrado para as gerações atuais que não sabem dessa história e para as gerações futuras.
Porque o Santa, como diz o nosso hino, tem um passado de glórias a se juntar com as vitórias do presente.
Infelizmente, não tivemos o apoio nem se compreendeu a importância do projeto.
Foi há 50 anos. Quem ama o Santa não vai deixar essa história não ser contada.
Parabéns a todos que fizeram parte daquele momento mágico!
Houve muitas testemunhas daquela fase áurea do Sana Cruz. Como outra que vai estar no meu documentário – sim nós vamos fazer -, que é o querido repórter Marcos Mochila, que estava presente no Maracanã naquele 4 de dezembro. Sobre o penúltimo jogo daquele time ele me disse que viu a torcida do Flamengo sair do Maracanã chorando, uma multidão arrasada porque eles tinham certeza, como diziam antes, inclusive pelos corredores do Jornal do Brasil, onde Mochila trabalhava naquela época: “Esses paraíbas vão tomar uma cacetada que vão perder o caminho da volta”.
No dia seguinte, quando chegou no jornal, ironizou: “Por onde eu vou pra Recife, alguém pode me informar?”, disse. Ninguém lhe respondeu.
Outro entrevistado será o craque e um dos melhores jornalistas esportivos do Brasil, Claudemir Gomes, da escola do mestre Adonias de Moura, editor do Diario de Pernambuco por muitos anos.
Claudemir estava iniciando seu primeiro ano no DP e também foi ao jogo contra o Cruzeiro “O clima era de absoluta frustração. O Santa tinha tudo para ser campeão e Mazinho fez falta. Mazinho era o chamado ‘Deus de Ébano’, que tinha sido caçado por Júnior, então lateral do Flamengo, no Maraca, e ficaria fora da semifinal”. “Tudo seria diferente”, vaticina.








