De O Globo – A demissão do general Gonçalves Dias do comando do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que entregou o cargo após vir à tona um vídeo em que ele circula pelo Palácio do Planalto em meio aos ataques golpistas de 8 de janeiro, não deu fim às dúvidas que pairam sobre o caso. Parte dos esclarecimentos podem vir no depoimento do militar à Polícia Federal (PF), determinado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A oitiva, de acordo com a determinação do magistrado, deveria ocorrer dentro de um prazo máximo de 48 horas, mas já foi marcada para a manhã desta sexta-feira.
Veja, abaixo, algumas das perguntas ainda sem resposta a respeito do episódio.
A PF tinha conhecimento das imagens?
Na decisão em que ordenou o depoimento de GDias — como o ex-ministro do GSI é conhecido —, Moraes lembrou que, no próprio dia 8 de janeiro, havia determinado que a PF obtivesse “todas imagens das câmeras do Distrito Federal” que pudessem “auxiliar no reconhecimento facial” dos extremistas. Vídeos dos circuitos internos do Congresso e do STF, também depredados na data, já foram utilizados para identificar invasores. Embora o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, tenha afirmado que todas as imagens já constavam no inquérito da PF, ainda não está claro se a gravação que veio à tona agora já foi, de fato, analisada pelos investigadores.
Em que circunstâncias e com quem Lula tratou das imagens da câmera que filmou Dias?
Nesta quinta-feira, Paulo Pimenta, afirmou que Lula solicitou, logo após os ataques, acesso às imagens das câmeras do Planalto. Segundo o titular da Secom, o presidente chegou a questionar especificamente sobre o conteúdo do equipamento posicionado no ponto em que Gonçalves Dias foi flagrado circulando. “Disseram que essas imagens não existiam”, pontuou Pimenta. Ele não esclareceu, no entanto, quem deu essa resposta a Lula, nem quando, nem se foram apresentadas justificativas ao presidente para que as gravações estivessem indisponíveis. Segundo a jornalista Andreia Sadi, do portal G1, Dias informou à cúpula do Planalto que o equipamento que o gravou estava quebrado.

As imagens haviam sido excluídas ou foram simplesmente omitidas?
A partir do relato de Paulo Pimenta, sobre a inexistência informada a Lula do conteúdo da câmera em questão, surgem outras dúvidas adjacentes. Se não havia imagens àquela altura, como elas foram tornadas públicas agora? É preciso esclarecer, assim, se o material foi deliberadamente excluído e depois recuperado de algum modo — e por quem — ou se o interlocutor citado pelo titular da Secom simplesmente mentiu sobre o assunto — e por quê.
E o próprio Gonçalves Dias, sabia das imagens?
Em entrevista à GloboNews no dia da demissão, o general negou ter relação com o trecho do vídeo que mostra outro membro do GSI orientando e até oferecendo água a invasores. O ex-ministro alegou que “colaram” sua imagem a práticas com as quais ele não teria relação. “Aquilo é um absurdo, não sei de onde vazou”, argumentou. GDias não explicou, entretanto, se sabia da existência da gravação na qual ele próprio aparecia, tampouco se informou ao presidente deste fato.
Por que as imagens foram colocadas em sigilo pelo GSI?
Antes de a CNN Brasil tornar pública a gravação que derrubou o general, o GSI se recusou a entregar o material à CPI dos atos golpistas da Câmara Distrital do DF e à deputada federal Adriana Ventura (Novo), que requisitaram formalmente o arquivo. À CPI, o órgão alegou que seria inviável repassar as imagens em função do seu tamanho. Para a parlamentar, foi usado o argumento de que poder-se-ia revelar a identidade de servidores militares que trabalham no Planalto. Além disso, em diferentes pedidos apresentados via Lei de Acesso a Informação (LAI), a negativa se dá com o argumento de que o conteúdo se encontra submetido a um sigilo de cinco anos.
Há outras imagens semelhantes?
Com as sucessivas negativas do GSI sobre a divulgação do conteúdo, que acabou tornado público apenas parcialmente, ainda não se sabe se a íntegra das gravações do Planalto traz outras imagens constrangedoras ou com potencial de desgaste para o governo. É possível, por exemplo, que mais agentes do órgão tenham sido flagrados em algum nível de interação suspeita com os extremistas que invadiram o prédio.
O que Gonçalves Dias fazia no Palácio do Planalto no dia dos ataques?
Na entrevista à GloboNews, o general afirmou que só entrou no palácio depois que ele foi invadido, com o objetivo de retirar golpistas do interior do edifício. Ele não explicou onde estava antes dos ataques ou por que chegou ao local em tão pouco tempo, ou se reportou a presença ali — tanto dele quanto de subordinados — para o presidente Lula, informando de imediato sobre sua atuação para desmobilizar a ofensiva golpista.
O general foi diretamente responsável por alguma prisão?
GDias alegou que sua interação com os golpistas na filmagem era apenas uma tentativa de retirá-los do terceiro e do quarto andar, onde fica a sala do presidente Lula, “para que houvesse a prisão no segundo”. Depois, ele teria apenas verificado “se as portas estavam fechadas e se não houve depredação”. O general não esclareceu, contudo, quantos e quais extremistas conduzidos por ele ao segundo andar acabaram efetivamente detidos.