Sempre prestei atenção ao que Amin fazia e escrevia: artigos em jornais, curso de Jornalismo da Universidade Católica, festivais de cinema. Amin clareava o que eu tentava enxergar para definir possibilidades de formação e exercício profissionais. Foi nele que me inspirei para fazer a locução de Batalha dos Guararapes II, de Geraldo Pinho, Fredi Maia e meu, duas vezes premiado no II Festival de Cinema Super 8 (Recife, 1978).
A TV Globo do Recife nos aproximou. Repórter, eu; editor, ele. Eu me considerava jovem e era inexperiente; via-o homem vivido e jornalista maduro. Não deu outra: passei a admirá-lo ainda mais por seu talento, criatividade, profissionalismo e capacidade de trabalho. Os nossos horários favoreciam o contato porque muitas das matérias que eu fazia eram exibidas no telejornal que ele editava, o NE 3, último do dia. Amin me orientava, cobrava e, quando necessário, ensinava.
Foi em matérias mais elaboradas e sem a pressão inerente ao dia a dia que tive dele muito mais que a atenção de editor cioso do trabalho do repórter. Amin criava roteiros que eram quase filmes para telejornais, reunia a equipe que lhe era possível escolher, dizia o que precisávamos fazer, recebia o resultado do nosso trabalho e submergia na ilha de edição até dar forma final à criação dele.
Lembro-me de reportagem sobre estreia de filme com censura livre. “A câmera na altura dos olhos da criança, Lázaro! O telespectador vai ver a matéria pelos olhos das crianças”, disse ao cinegrafista. E assim foi: a nossa equipe trabalhou agachada o tempo todo e a matéria ficou linda. Amin me ensinou a buscar, pela forma, o que de maior importância humana e social pudesse ser dado ao conteúdo. Era mais do que eu poderia esperar da primeira oportunidade que tive em TV.
Amin me privilegiou com mais. “Nós vamos fazer matéria com Paulo Bruscky”, anunciou. Desconfiado, pensei: “Nós?” Até hoje, acho que ele adivinhou meu pensamento: “Sim; você, eu e a equipe. César será o cinegrafista”. Guiados pela imaginação e pela presença de Amin e Bruscky, lá fomos nós, caixão de defunto jogado ao Capibaribe, música dançada em velho cabaré do Bairro do Hellcife. Que trabalho, que farra!
A sua sombra alta e magra, roupas folgadas, a andar lentamente pela rua do Futuro, a tomar café no ETC e Jaqueira traz à memória a generosidade de quem tanto me deu e expressa a esperança de que sempre seremos vizinhos.
Obrigado, Amin!
_________________________
Paulo André Leitão é jornalista.