Do O Globo – Apesar de pintar cenários em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue na liderança e só é ameaçado quando Jair Bolsonaro, inelegível, está entre os candidatos testados, a nova pesquisa Genial/Quaest evidencia um desgaste das duas maiores figuras da política brasileira. Para maioria confortável dos entrevistados, eles não deveriam concorrer no ano que vem.
No caso do petista, que já disse que disputará a reeleição, o percentual subiu três pontos entre um levantamento e outro e chegou a 59%. Para 67%, Bolsonaro deveria abrir mão e apoiar outro nome — embora o patamar tenha diminuído na comparação com outubro, o resultado ainda é sintomático do rechaço à volta dele ao jogo.
As variações no novo levantamento também apontaram o peso do eleitor independente — aquele que não se define “nem de direita, nem de esquerda” — na escolha do vencedor em 2026. É esse eleitor que mais rejeita “nome nem ligado a Lula, nem a Bolsonaro” e que mais deseja “alguém de fora da política”.
Rejeição à família
Em outra pergunta da pesquisa que testa o humor do eleitorado sobre os dois, há divisão entre os entrevistados sobre qual seria o melhor resultado da eleição. Chegam a 28% os que citam a vitória de Lula ou de alguém apoiado por ele, 26% os que querem Bolsonaro ou um político abraçado pelo ex-presidente e 24% os “nem-nem”, que preferem um quadro de fora da polarização entre os dois. Há ainda 17% que gostariam de ver no Palácio do Planalto alguém de fora da política, o que faz com que as duas opções que não envolvem o petista e o maior nome da direita ultrapassem os 40%.
A sondagem mostra ainda que o sobrenome Bolsonaro, quando o escolhido é alguém da família do ex-presidente, perde para a soma de governadores da direita e de outros nomes como Ciro Gomes nas simulações de primeiro turno. Eles até levam vantagem nos cenários em que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, não disputa, mas a junção dos percentuais dos outros candidatos — que representam hoje uma “terceira via” mais de direita — supera os filhos de Bolsonaro e a mulher dele, Michelle, em mais de um cenário.
Historicamente, os candidatos de terceira via no país estão mais ao centro do que os atuais cotados para tentar substituir o clã Bolsonaro como segundo colocado e avançar para o segundo turno contra Lula, que pontua mais de 30% em todos os cenários e não vê a liderança ameaçada. Marina Silva, duas vezes seguidas, Ciro Gomes e Simone Tebet foram os terceiros colocados nas últimas quatro eleições presidenciais.

Outro dado favorável para quem tenta viabilizar candidaturas de direita que não dependam do sobrenome Bolsonaro está na rejeição. A de Lula oscilou dois pontos para cima e foi a 53%, enquanto a de Tarcísio oscilou um ponto para baixo e registrou 40%. A do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), caiu três pontos e é de 37%.
Ronaldo Caiado (34%), de Goiás, e Romeu Zema (35%), de Minas, também apresentam percentuais inferiores de rejeição. Todos esses chefes estaduais ainda são desconhecidos para pelo menos 30% dos entrevistados, o que ajuda a explicar o baixo rechaço a eles e representa uma possibilidade de crescimento eleitoral.
“Enquanto a rejeição de Lula oscila de 51% para 53%, a rejeição de nomes como Tarcísio, Ciro e Ratinho oscila para baixo. O potencial de voto da oposição, na média, tem oscilações positivas entre outubro e novembro”, avaliou, ao analisar a pesquisa, o diretor da Quaest, Felipe Nunes.

Eleitorado ´nem nem´
O chefe do instituto destacou ainda a mudança observada entre os eleitores independentes — aqueles que não se consideram nem de esquerda, nem de direita.
“Acompanhar a rejeição entre os independentes é crucial para entender o cenário. Por isso a família Bolsonaro tem tanta dificuldade de se viabilizar no ano que vem, a rejeição deles tem um piso de 70%. A rejeição a Lula nesse grupo passou de 54% em outubro para 64% em novembro”, disse.
O resultado entre independentes é um baque para o presidente, que até outubro vinha melhorando o desempenho nesse segmento do eleitorado — que é o fiel da balança da eleição. A reversão no movimento fica nítida também nos dados de aprovação do governo. De maio até outubro, Lula tinha reduzido de 28 para dois pontos a diferença entre desaprovação e aprovação nessa faixa, mas agora ela subiu para nove.
Segundo a Quaest, os holofotes sobre a segurança pública despertados pela operação da polícia do Rio que resultou em 121 mortes, à qual o presidente se opôs, pesaram contra Lula. A crise teria estagnado a tendência de melhora que o petista vinha tendo nos últimos meses, tanto na aprovação do governo quanto nas projeções eleitorais.
A pesquisa foi realizada entre os dias 6 e 9 de novembro. Foram 2.004 entrevistas presenciais com brasileiros de 16 anos ou mais. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.









