Por Fausto Macedo, do Estadão – Em meio às investigações da Operação Sisamnes, a Polícia Federal encontrou diálogos entre um lobista de sentenças e o assessor de um desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso com “foco” no pagamento de propinas.
Em uma conversa, o advogado Rodrigo Vechiato da Silveira, assessor do desembargador Sebastião de Moraes Filho – afastado sob suspeita de vender decisões judiciais – faz uma conta: “60 chefe – 20 menino – 42 imposto. Sobra 127 pra gente”. Os investigadores suspeitam que a mensagem se refere a pagamento de propina.
Quando foi afastado das funções, em agosto, Moraes Filho reagiu enfaticamente. Ele disse que ‘nunca teve sua ficha funcional maculada em quase 40 anos de atividade’. O Estadão busca contato com Rodrigo Vechiato. O espaço está aberto.
Andreson é apontado como o chefe de um ‘verdadeiro e ousado comércio’ de sentenças que teria chegado a gabinetes de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Vechiato também foi alvo da operação: sua casa foi vasculhada por policiais federais. Ele está sob monitoramento eletrônico de tornozeleira, teve de entregar o passaporte, está proibido de acessar prédios do Judiciário e sofreu bloqueio de bens de até R$ 500 mil.
O diálogo destacado pela Polícia Federal ao pedir a abertura da Operação Sisamnes ocorreu entre Vechiato e o advogado Roberto Zampieri. Apontado como ‘lobista dos tribunais’, Zampieri foi assassinado a tiros em dezembro do ano passado, na frente de seu escritório em Cuiabá.
A Polícia Civil de Mato Grosso suspeita que a atuação do advogado em um processo no qual foi questionada a ‘amizade íntima’ entre Zampieri e o desembargador Moraes Filho tenha sido o pivô da execução.
A partir do celular de Zampieri os investigadores encontraram mensagens que inquietam os Tribunais de Justiça de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul e também o Superior Tribunal de Justiça. Zampieri atuava junto de Andreson, o qual chamava de ‘rapaz de Brasília’. Mensagens mostram que ambos tentavam interceder junto a assessores de ministros do STJ em busca de decisões favoráveis na Corte superior.
As conversas entre Zampieri e Vechiato foram incluídas em uma das hipóteses criminais investigadas na Operação Sisamnes. Segundo os investigadores, diálogos dos dois, entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2023, têm como “foco o pagamento de vantagens econômicas indevidas, havendo vários indicativos de supostos pagamentos de propinas que também beneficiariam o desembargador Sebastião”.