Do G1 — O acervo do artista plástico pernambucano Abelardo da Hora começou a ser enviado à Paraíba, para a criação do Memorial Abelardo da Hora, no Espaço Cultural José Lins do Rêgo, em João Pessoa. Ao todo, 179 itens são empacotados e transportados para a capital paraibana.
O traslado das peças começou a ser feito na sexta-feira (11). As obras estavam abrigadas em um casarão localizado na Rua do Sossego, no bairro da Boa Vista, no Centro do Recife. Foi nesse imóvel que Abelardo da Hora morou de 1956 até 2014, quando morreu aos 90 anos.
A família decidiu doar o acervo à Paraíba em 2018, sob a justificativa de que, desde a morte de Abelardo da Hora, enfrentava problemas para “abrigar, manter, preservar e divulgar a obra e a memória do artista”.
Os herdeiros de Abelardo da Hora também disseram, na época, que houve propostas nacionais e internacionais para doação do acervo, mas esperava que o governo de Pernambuco sugerisse alguma solução para manter as obras do pernambucano no estado.

“Infelizmente, o governo pernambucano não pôde oferecer as mesmas e definitivas condições postas pelo governo paraibano. Diante dessa situação, não restou à família de Abelardo da Hora nada além de doar o acervo do artista ao estado vizinho, inclusive porque a permanência do referido acervo na sua antiga residência, além de altamente dispendiosa para a família, incorria em grande risco de deterioração”, disseram os herdeiros, em carta divulgada em 2018.
Por meio de nota, o governo de Pernambuco declarou que, em 2018, fez uma proposta ao Instituto Abelardo da Hora para que o acervo do artista permanecesse no estado (confira a íntegra da resposta mais abaixo).
Nesta quarta-feira (16), a maioria das esculturas grandes, que ficavam no terreno externo da casa de Abelardo, havia sido removida. Restavam, apenas, os projetos abrigados dentro da casa.
“Estamos muito felizes, tranquilos com a preservação, a união do acervo, porque a preocupação maior do artista era que a sua obra não ficasse partida, seccionada, uma coisa aqui e outra lá fora. Estamos com o grosso do acervo todo no memorial. Isso nos dá muita alegria, muita satisfação, de ver a obra, preservada, esse legado cultural para as gerações futuras”, afirmou Lenora da Hora, filha de Abelardo.

Abelardo da Hora nasceu em São Lourenço da Mata, no Grande Recife. Era escultor, pintor, desenhista e gravador. Ele foi um dos fundadores da Sociedade de Arte Moderna do Recife e é considerado um dos maiores escultores brasileiros do século 20.
A curadoria da exposição do memorial é de Daniel da Hora, um dos netos de Abelardo da Hora. A doação foi feita pelos sete herdeiros do artista plástico. A diretora do memorial, Maria Botelho, chegou ao Recife para acompanhar, pessoalmente, o traslado do acervo.
“Ele deixa um acervo expressionista dos mais valiosos e de qualidade artística para o Brasil e a América Latina. Era um homem múltiplo, não só um artista. Foi coerente com toda a sua trajetória de vida. Suas obras são de denúncia social”, afirmou Maria Botelho.

A previsão do memorial é de que, no máximo até o dia 27 de março, todo o acervo de Abelardo da Hora esteja em João Pessoa. O espaço dedicado à obra dele deve ser inaugurado no dia 30 de março.
“São 179 peças, dentre essas tem algumas coleções, que contam como uma peça, mas dentro tem algumas coleções várias de desenhos, tem uma coleção que tem várias maquetes. São várias coleções”, disse a filha de Abelardo da Hora.
Entre as obras de Abelardo da Hora que podem ser encontradas na capital pernambucana, estão “Mulher Deitada”, no Shopping Recife; “Mulher Sereia”, no Mar.

O Outro Lado
O governo de Pernambuco afirmou, por meio de uma nota da Secretaria de Cultura e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico (Fundarpe), que foi feita uma proposta ao Instituto Abelardo da Hora, em 2018, para que o acervo do artista permanecesse no estado.
“Sempre foi muito claro para o governo de Pernambuco que o Recife é o melhor lugar para ser mantido o acervo artístico e documental do escultor pernambucano. Razões para isso são inúmeras, bastando citar ter sido toda a sua obra criada nessa cidade, inspirada pela cultura pernambucana. Trabalho de um homem apaixonado e comprometido com a criatividade e a luta do povo”, disse, no texto.
Além disso, declarou que “esta convicção era tão clara em 2018 que, depois de diversas reuniões com representantes da família de Abelardo, o governo do estado entregou documento, na sede do instituto, formalizando a solicitação da cessão do referido acervo”.
A nota enviada pelo governo também afirmou que já havia um local próprio para a guarda, conservação e exposição das obras de arte e demais documentos: uma nova ala do Museu Cais do Sertão, localizado no Bairro do Recife, no Centro da cidade.
“Foi quando, naquele mesmo ano, o governo de Pernambuco demonstrou surpresa e incredulidade por ter tomado conhecimento, de modo casual, que os herdeiros de Abelardo da Hora decidiram transferir o acervo para a Paraíba, sem dar sequer uma resposta à proposta formalmente apresentada pelo governo de Pernambuco”, disse, na nota.