Por André Beltrão — A maior polêmica desta semana é o escândalo da votação de urgência e aprovação recorde (23 segundos) do Projeto de Lei 1904/24, do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e outros 32 parlamentares, que equipara o aborto de gestação acima de 22 semanas a homicídio.
Manifestações e passeatas ocorreram pelo Brasil, e amanhã haverá mobilização nacional em vários estados. A imprensa é unânime em considerar o projeto um retrocesso, ainda mais por não existir lei similar em nenhum outro país.
Só se fala nisso no Instagram e nos telejornais. Em Pernambuco, governado por duas mulheres, não houve um só posicionamento sobre o tema, nem por parte de Raquel Lyra nem de sua vice, Priscila Krause.
Na oposição, Marília Arraes, que sempre se disse defensora das mulheres, limitou-se a fazer um post sobre o Dia dos Namorados e não quis comentar o polêmico tema. Algumas mulheres da cena política, como Isabela de Roldão, fizeram vídeos criticando; a vereadora Liana Cirne e a senadora Teresa Leitão têm postado continuamente contra o PL, que chamaram de “imposição do absurdo” nas redes sociais.
A deputada estadual Dani Portela, candidata a prefeita do Recife, fez um post sugestivo e verdadeiro sobre o assunto. Ao que parece, os candidatos não querem tocar nesse vespeiro e ficar mal com o eleitorado evangélico. Nem João Campos, Daniel Coelho ou Gilson Machado têm opinião sobre o tema?
Engraçado é que provavelmente o presidente Lula vai vetar, não aceitando este “teste” que o PL está fazendo com ele. Afinal, este projeto é um absurdo. Em que lugar você veria uma lei que ordena algo sobre o corpo de um homem?
A crueldade do projeto é assustadora: tornar rés por homicídio mulheres e/ou crianças estupradas deixa apenas um questionamento:
E se fosse sua filha?
De Raquel não se espera muito; tem postura neutra e sempre posta idas à Igreja Universal ao lado de políticos como Eduardo da Fonte (que também não se posicionou sobre o projeto), seu recém-aliado.
Que pena o Brasil virar um país onde a religião pauta a política.