Do Globo — Os Estados Unidos suspenderam o sigilo de um relatório de Inteligência explosivo que revela que o príncipe-herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, autorizou “capturar ou matar” Jamal Khashoggi, um jornalista dissidente que foi assassinado no consulado saudita em Istambul no final de 2018.
Em um informe de dois anos atrás, divulgado pelo governo do presidente Joe Biden, a Inteligência americana concluiu que o príncipe “aprovou uma operação em Istambul, Turquia, para capturar ou matar o jornalista saudita Jamal Khashoggi”. O príncipe saudita via Khashoggi como uma “ameaça para o reino”, segundo a Inteligência americana.
Mohammed bin Salman é o líder de fato da Arábia Saudita, mesmo ainda fora do trono hoje ocupado por seu pai, rei Salman, e nos últimos anos se tornou o rosto do país pelo mundo, professando uma ideia de modernidade, ao mesmo tempo em que era acusado de graves violações dos direitos humanos e repressão a seus opositores — como Khashoggi. Essa faceta repressora é notada no documento divulgado nesta sexta-feira.

“Nós baseamos essa conclusão (de que Bin Salman ordenou a execução) nas indicações do controle que o príncipe herdeiro possui nos mecanismos de tomada de decisão no reino, o envolvimento direto de um assessor e integrantes da equipe de segurança de Bin Salman na operação, e o apoio do príncipe da coroa ao uso de métodos violentios para silenciar dissidentes no exterior, incluindo Khashoggi”, aponta o documento.
Ele sempre rejeitou qualquer tipo de relação com o caso, e chegou a condenar cinco cidadãos sauditas à morte em um julgamento apontado como “teatral” por críticos. As penas foram, mais tarde, substituídas por dez anos de prisão.
Contudo, de acordo com o relatório dos EUA, era “extremamente improvável que funcionários do governo saudita levassem adiante uma operação desse tipo sem a autorização do príncipe herdeiro”.