Do UOL — Estão cada vez mais descontentes com o governador João Doria (PSDB) os médicos que integram o Centro de Contingência ao Coronavírus em São Paulo, núcleo que assessora o governo estadual no combate a pandemia. O governador diz acatar as sugestões do comitê, mas, com frequência, faz alterações para relaxar as regras de isolamento social oferecidas.
No pior momento da pandemia no país, a maioria dos integrantes do Centro de Contingência defendem, há pelo menos duas semanas, a proposta de um lockdown por um período de dez dias no mínimo. A medida nunca chegou a ser defendida com tanto afinco pelos médicos como agora, que veem na restrição total a única alternativa para evitar um colapso no sistema de saúde em 15 dias.
Apoiado pelo ‘setor econômico’ do governo, Doria tem se mostrado reticente em decretar um lockdown. O principal motivo para a hesitação do governador seria a indisposição com o comércio, que faz pressão no governo estadual para que não haja fechamento dos setores não essenciais, além de ser uma medida considerada ‘impopular’ por autoridades paulistas.

Sabendo disso, o Centro de Contingência ainda negociou com o governador que o lockdown acontecesse apenas à noite e de madrugada, a fim de evitar que jovens, considerados os principais vetores de transmissão da covid-19, frequentassem bares, festas e restaurantes.
A ideia seria um toque de recolher já neste final de semana, proibindo as pessoas de saírem de casa a partir das 22h até as 5h, além de regredir todas as regiões em fase amarela para a fase laranja, que é mais restritiva.
Foi sugerido pelo comitê, também, que algumas regiões do estado, como Campinas, Ribeirão Preto, Presidente Prudente e Bauru, tivessem o toque de recolher antecipado para 20h. Mas não teve jeito.
O governador anunciou, no dia seguinte à reunião com o Centro de Contigência, a versão adaptada da proposta do comitê, batizada de “toque de restrição”. Foi o ponto máximo de incômodo dos médicos.

Até membros do próprio governo consideraram a coletiva “desastrosa” em termos de comunicação. Isso porque o anúncio fazia referência a uma medida que parecia ser severa, como um toque de recolher, mas se tratava apenas de um anúncio de mais fiscalização de aglomerações.
Autoridades do governo relatam que, para o governador, a ideia de um lockdown causaria “pânico” na população e que a medida seria desnecessária neste momento, em que o número de leitos de hospitais ainda estariam sob controle.
Uma parte minoritária do comitê concorda com essa tese e acredita que o lockdown é “inviável”, uma vez que a população não obedeceria às regras e as restrições anunciadas pelo governo cairiam em descrédito permanente.







