O Náutico goleou o Decisão (4×0), ontem a noite, nos Aflitos, e assumiu a liderança do Campeonato Pernambucano. Enquanto os torcedores alvirrubros comemoravam o feito de Kieza e seus companheiros, os dirigentes coçavam a cabeça ao observarem que na bilheteria havia ficado uma arrecadação de R$ 40.308,00. Prejuízo certo.
Nas resenhas das rádios, o presidente do Sport, Milton Bivar, observa que, nas duas partidas que o clube rubro-negro disputou na Arena Pernambuco acumulou um prejuízo de R$ 80 mil. Conclusão: os clubes estão pagando para jogar no Estadual. A realização de um Retrofit no futebol regional é uma questão de sobrevivência para os clubes.
Retrofit
Retrofit é um termo muito usado em engenharia, e que tem sido adotado por alguns políticos, para designar o processo de modernização de algum equipamento considerado ultrapassado.
Nos últimos 25 anos, quando a internet passou a ser de domínio público, o mundo ficou basicamente sem fronteiras. A sociedade mudou. A nova ordem tem suas imposições, e quem não acompanhar o processo de evolução fica a margem do crescimento. Isto ocorre com o futebol brasileiro que deitou em berço esplêndido com a conquista de cinco títulos mundiais, e hoje fica vendo a banda passar sem conseguir acertar o passo, estando cada vez mais fora do compasso.
Há muito que o futebol passou a ser tratado como um dos melhores negócios do planeta, na atualidade. Os investimentos em grandes competições, e grandes clubes, se multiplicam a cada dia. Mas para isso é necessário manter a boa qualidade do produto, caso contrário o mesmo não será atrativo para o consumo do público alvo.
Dentro do contexto está claro que a renda dos jogos representa apenas uma fonte de receita.
Pluri Consultoria
A Pluri Consultoria, empresa que está sempre realizando estudos sobre o atual cenário do futebol brasileiro, analisou, recentemente, dez campeonatos estaduais que são bancados pela Rede Globo. De saída observamos distorções alarmantes. A emissora investe R$ 176 milhões no Campeonato Paulista; R$ 112,1 no Campeonato Carioca; R$41,6 no Mineiro e, pasmem, R$ 4 milhões no Pernambucano. As cotas destinadas ao Cearense e ao Baiano ainda são mais tímidas.
O desequilíbrio financeiro impacta na capacidade de investimento. Vejamos: o Campeonato Pernambucano tem seus direitos de transmissão vendidos por R$ 4 milhões. Deste montante, Náutico, Sport e Santa Cruz recebem R$ 1 milhão, cada um. O outro milhão restante é dividido com os outros clubes que este ano vão receber R$ 140 mil. Nesta proporção a distância entre os Grandes da Capital e os Nanicos do Interior só tende a aumentar. Com tamanho desequilíbrio a competição doméstica deixou de ser parâmetro para medir a capacidade dos elencos dos clubes que irão disputar o Brasileiro.
Cenário no Brasil
A nível nacional o cenário se torna mais sombrio. Os clubes considerados, médios e pequenos de São Paulo recebem cotas superiores a do Pernambucano. Ituano, Mirassol, Guarani, Ponte Preta, Inter de Limeira, Ferroviária de Araraquara… receberam, cada um, R$ 6 milhões para disputar o Paulista 2020. Em Minas, o América Mineiro recebeu uma cota no valor de todo o Pernambucano: R$ 4 milhões.
Sem recursos fica difícil investir em qualidade. Sem qualidade o espetáculo não atrai um bom público. E assim se forma a Caravana da Miséria, como bem define o mestre, José Joaquim Pinto de Azevedo.
Se não for feito um Retrofit no futebol brasileiro os clubes do Norte/Nordeste vão morrer de inanição.
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Claudemir Gomes é jornalista esportivo.