Por Reynaldo Azevedo, do UOL – Já defendi aqui, como sabem, que a imprensa parasse de cobrir a pantomima funesta armada em frente ao Palácio da Alvorada pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo general Augusto Heleno, chefe do Gabinete da Insegurança Institucional (GII). Folha, UOL, Band e Grupo Globo fazem a coisa certa e anunciam que seus jornalistas não mais darão plantão em frente ao Alvorada enquanto não lhes for garantida a devida tranquilidade para trabalhar. Os jornais Correio Braziliense e Metrópoles tomaram decisão idêntica.
É o certo. Demorou! Aquele ritual diário de grosseria e estupidez tinha de ter fim. Digo mais: ainda que o ministro do G(in)SI pusesse homens armados para proteger os jornalistas, tratar-se-ia de um despropósito. A patuscada serve para que Bolsonaro faça embaixadinha para seus fanáticos desocupados, insuflando ele próprio os ataques aos jornalistas.
A propósito: o que fazem lá aquelas pessoas? Não trabalham? Vivem de renda? Estão com a vida ganha? Quem lhes paga a conta? Quando militantes profissionais de esquerda assediavam imprensa, ministros do Supremo ou simples adversários políticos, eu fazia a mesma pergunta.
Afinal, cumpre que nós, jornalistas profissionais, nos perguntemos: o que vamos fazer lá? Ouvir insultos e impropérios? Sofrer ameaças? Ser alvos da boçalidade abjeta, do cretinismo cru, do ressentimento ignorante? E tudo aquilo para quê?
Que informação relevante sai de lá? Resposta: nenhuma! Se Bolsonaro quer falar apenas para os seus, que fale! Se emissoras e jornais que lá permanecerem quiserem dar “furos” fantásticos às portas do Alvorada e à beira do abismo, que o façam então.
Convenham: este é um governo incapaz de anunciar qualquer coisa de útil e de relevante em uma reunião ministerial de 1 hora e 55 minutos. Por que seria diferente à porta do Alvorada? Aliás, cumpre notar à margem que o chefe da nação diz menos palavrões entre seus sectários do que na conversa com os seus ministros — que não têm um vocabulário muito melhor do que o seu, e isso inclui o, por assim dizer, “festejado” Paulo Guedes.
Chega! Fazemos um trabalho essencial em defesa da democracia que Bolsonaro quer destruir — e essa é a razão principal do seu ódio. Vimos como trata seus próprios ministros: aos berros, esmagando-lhes a individualidade, intimidando-os, infantilizando-os. Ele próprio, quando lhe foi dado falar, foi o primeiro a desviar o foco do encontro. Não tem conhecimento, não tem norte, não tem método, não tem nada. Só rancor e ressentimento. Até contra seus auxiliares.
Seus subordinados lhe devem obediência. E cada um lá sabe por que aceita a humilhação. Há gente ali com milhões de motivos. Poderia ser a hierarquia normal da democracia. Como vimos, não é. Que se virem! Nós, os jornalistas, não somos nem funcionários nem militantes de Bolsonaro.
Num dado momento da reunião, com a elegância habitual, entre palavras de baixo calão, o presidente notou que os ministros e o alto escalão só estavam ali porque ele havia vencido a eleição. Muitos saíram da obscuridade e da mediocridade para o estrelato. E onde poderiam brilhar? Ora, num ambiente em que o pouco que sabem pode passar por iluminação. E, nesse grupo, com efeito, Bolsonaro é mestre.
Como é? O presidente falou que elogios da imprensa renderiam demissão? Quero aqui aplaudir com entusiasmo o trabalho sem igual dos seguintes patriotas:
– Paulo Guedes (Deseconomia);
– general Braga Netto (Casa Incivil);
– general Augusto Heleno (Gabinete da Insegurança Institucional);
– general Fernando Azevedo e Silva (Sem Defesa);
– Ernesto Araújo (Relações com o Olavistão);
– Ricardo Salles (Desmatamento & Boiada);
– general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria do Desgoverno);
– Pedro Guimarães (Caixa de Armas);
– Rubem Novaes (Porra daquele Banco);
– Marcelo Álvaro Antonio (Laranjal);
– Onyx Lorenzoni (Bando de Pobre Pidão);
– Gustavo Montezano (Amigo dos Filhos);
– Fábio Wajngarten (Hostilidade à Imprensa)
Sobrariam muitos elogios também para Sérgio Moro, mas ele já foi chutado do Ministério da Injustiça.
Pois que se refestelem, então, na autocomplacência, no autoelogio e na autoestima.
ARMADILHA DO G(in)SI – Leio no “Poder 360”:
“Desta vez, os bolsonaristas tiveram o dobro do espaço que habitualmente é destinado a eles no local. Ficaram em 2 “cercadinhos” -1 ao lado da imprensa e outro à frente.
(…)
O Gabinete de Segurança Institucional costuma permitir a entrada de aproximadamente 30 pessoas. Havia cerca de 60 na manhã desta 2ª feira (25.mai). Os apoiadores se dividiram em 2 grupos.
Depois que o presidente foi embora hoje, o grupo de apoiadores que estava do outro lado da rua andou livremente até a frente da área destinada à imprensa. De lá, hostilizaram os profissionais, junto com o grupo que já estava posicionado ao lado dos repórteres (como ocorre diariamente).
CONCLUO – Parabéns, general Augusto Heleno!
Que os veículos de comunicação que ora se afastam da cobertura ponderem bastante antes de voltar a enviar seus repórteres ao local ainda que a segurança seja reforçada. É preciso também respeito.
Enquanto o presidente se comportar como um arruaceiro, que fique a falar para seus militantes. Por que jornalistas profissionais, que põem em risco a própria saúde em busca de informação; que atuam sob rígidos manuais de conduta da profissão e das empresas; que cumprem o dever de fazer indagações ao presidente, têm de ser insultados por ele próprio e por outros desocupados truculentos?
Entendo que igual decisão deveriam tomar todos os veículos profissionais de comunicação. E que lá permaneçam os que têm vocação para a sabujice e o puxa-saquismo.
Bolsonaro leva a reputação do país a profundezas nunca antes atingidas. Eis aí: mais uma notícia a ganhar o planeta, caracterizando o Findomundistão em que Bolsonaro e seus bambas transformam o Brasil.