“Somos todos afogados”, por Claudemir Gomes
Pernambuco esportivo amanheceu com esta faixa. Todo torcedor, seja de que bandeira for, fez uma louvação ao time de Afogados da Ingazeira – A Coruja Sertaneja – por conta da vitória épica sobre o Atlético Mineiro, em jogo válido pela segunda fase da Copa do Brasil. Um feito histórico para o time debutante que em três jogos na competição nacional irá adicionar aos seus cofres mais de R$ 2,5 milhões. Dinheiro que vai dar para iniciar a construção de um sonho que é o Centro de Treinamento.
Muitas foram as definições para o confronto histórico no Estádio Vianão, no Sertão Pernambucano: David x Golias; Milhão x Tostão… Se ainda estivesse entre nós, por certo o mestre, Nelson Rodrigues, diria em sua crônica que o empate – 2×2 – no tempo normal, e a vitória – 7×6 – nas cobranças de tiro livre direto, foi obra do “Sobrenatural de Almeida”, ou que o “imponderável” havia entrado em campo.
Se formos traçar um paralelo entre as histórias dos dois clubes, seguindo uma lógica que também existe no futebol, podemos dizer que, se o Atlético/MG e o Afogados se confrontarem dez vezes, vamos ter um empate e nove vitórias do Galo Mineiro. Entretanto, no futebol existem mistérios que nunca serão desvendados.
Acho que houve soberba por parte dos mineiros, que caíram por falta de conhecimento de causa. Então vejamos:
Acredito que os mineiros desconhecem um dos clássicos da literatura Brasileira – Os Sertões – de Euclides da Cunha, onde o autor nos brinda com uma afirmativa antológica: “O sertanejo é antes de tudo um forte”. E foi com raça e muita superação que o Afogados se transformou na grande surpresa da noite, no futebol brasileiro.
Em, “A arte da guerra”, aprendemos que, para se vencer uma batalha é primordial conhecer o seu exército e o exército inimigo. O Atlético/MG tinha pouco ou nenhum conhecimento do Afogados. Nada sabia sobre o técnico, Pedro Manta, que sempre defendeu a tese de uma “pegada forte” nos times que comanda. O Galo não soube desmontar a retranca feita pela Coruja.
Embora tenha a aparência de um sujeito simplório, Pedro Manta é um profissional preparado, com vários cursos no currículo. Ele utilizou um plano de jogo que é usual em todos os continentes quando acontece um confronto entre um time reconhecidamente superior tecnicamente, com um adversário mais modesto: a surpresa do contra-ataque. A aplicação, a entrega, dos jogadores do Afogados na marcação, quando não tinham a posse da bola, e a velocidade nos contra-ataques foram decisivas na construção do placar histórico.
Por fim, os mineiros desconheciam por completo o calendário do carnaval pernambucano. Aqui, o único dia reservado para a festa do Galo é o Sábado de Zé Pereira. Na Quarta-feira de Cinzas quem não tem raiz pernambucana e se aventura a fazer o passo acaba segurando a Lanterna dos Afogados.
Ah! Desperdiçar dois pênaltis numa decisão e dar a volta por cima, é uma coisa que até os deuses do futebol duvidam. Nem Zé do Caixão conseguiria explicar.
Depois de buscar e ouvir tantas “explicações” para o grande feito do Afogados, acho que o segredo estava na bunda dos jogadores, onde havia no calção, a propaganda: “Blog do Magno Martins”. E os comandados de Manta foram tão audaciosos e letais quanto o jornalista é nos seus posts.
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Claudemir Gomes é jornalista esportivo.







