Por Diego Ribas do UOL – O que deveria ser uma noite histórica para as lutas no Brasil terminou em caos e vergonha. No Spaten Fight Night 2, transmitido pela Globo, Wanderlei Silva foi desclassificado por dar cabeçadas em Acelino “Popó” Freitas. A cena já era ruim o suficiente para manchar um evento que buscava credibilidade. Mas o pior ainda estava por vir: após o anúncio oficial, as equipes se envolveram em uma briga generalizada e, em meio ao tumulto, Wanderlei acabou nocauteado dentro do ringue.
O impacto dessa confusão é devastador. Não se trata apenas de uma derrota esportiva, mas de um retrocesso institucional. O MMA lutou durante décadas para limpar a imagem de “esporte de briga de rua” e conquistar legitimidade como prática regulamentada. Ao vivo, em horário nobre, esse esforço foi jogado no lixo. O que o público viu foi exatamente o estereótipo que tantos dirigentes, atletas e promotores trabalharam para enterrar.
O paralelo com o passado é inevitável. Em 1997, o evento Pentagon Combat, no Rio de Janeiro, terminou em uma pancadaria generalizada entre torcidas. A repercussão foi tão negativa que o vale-tudo foi proibido na cidade por dez anos e terminou por afastar o promissor investimento no esporte de um sheike árabe. Hoje, quase três décadas depois, testemunhamos uma cena que remete diretamente àquele vexame. O risco de novas restrições e de uma reação negativa da opinião pública é real – e grave.
É preciso destacar que não estamos falando de lutadores iniciantes, mas de ídolos consagrados. Wanderlei Silva é uma lenda do MMA; Popó, um tetracampeão mundial de boxe. Quando nomes desse porte protagonizam uma confusão, o estrago é ampliado. Não há como relativizar: a desclassificação, as cabeçadas e a pancadaria coletiva mancham a trajetória de todos os envolvidos, e não importa quem começou, todos erraram.
A situação é ainda mais delicada porque o Spaten Fight Night passa longe de ser um evento obscuro. É uma iniciativa de uma grande patrocinadora, com transmissão em rede nacional. O investimento da cervejaria e a vitrine televisiva pretendiam consolidar um produto capaz de atrair tanto o público de MMA quanto o de boxe. Em vez disso, a noite terminou como um prato cheio para críticos e opositores do esporte.
Os organizadores, as comissões e os atletas precisam entender que, neste momento, não basta apenas vender ingressos e pay-per-views. Há uma responsabilidade institucional em proteger a credibilidade do esporte. Protocolos de segurança, disciplina rígida nos corners e punições exemplares são urgentes. Sem isso, corre-se o risco de repetir erros que já custaram caro no passado.
Vale lembrar que o boxe profissional já sofre para se manter relevante no imaginário popular e cede espaço para duelos entre celebridades. O MMA, que vive sem transmissão fixa em TV aberta no Brasil, não pode se dar ao luxo de perder ainda mais terreno. Cada confusão, cada mancha, é uma oportunidade desperdiçada de conquistar novos fãs e patrocinadores.
No fim das contas, todos perderam. Wanderlei Silva, Popó, os fãs, a Globo, os patrocinadores e, principalmente, o MMA brasileiro. O esporte que levou anos para se legitimar agora corre o risco de ver sua imagem arruinada por uma noite de descontrole. O Spaten Fight Night 2 deveria ser lembrado como espetáculo, mas entrará para a história por conta dessa briga. E talvez como o alerta que ninguém queria ouvir.








