O jornal britânico The Guardian traz em sua versão impressa desta quinta-feira (1) uma matéria de três páginas intitulada “Será essa o maior escândalo de corrupção de todos os tempos?”, onde descreve o cenário político e econômico do Brasil nos últimos anos.
Escrito pelo repórter especial Jonathan Watts, o texto questiona se os três anos de operação valeram mesmo a pena e diz logo no início que a melhora da situação do Brasil após a Operação Lava Jato “vai depender não apenas de quem cair, mas de quem vem depois”.
O diário apresenta a investigação com a operação que revelou uma “vasta e intrínseca rede de corrupção política e empresarial e pôs a vida de uma nação de ponta-cabeça”.
O editorial afirma que enquanto muitos acreditam que a operação tornará o Brasil “mais eficiente”, dirigido por “políticos mais limpos e respeitadores da lei”, existe o risco de que o processo “abale a frágil democracia” do país e abra caminho “para uma teocracia evangélica de direita ou um retorno de um governo ditatorial”. O jornal não cita nomes de possíveis novos líderes nesses cenários.
O Guardian afirma que o país precisava enfrentar a corrupção, que levou ao aumento da desigualdade e conteve o crescimento econômico, mas questiona se a operação Lava Jato de fato “valeu o sacrifício”.
O editorial aponta que a Lava Jato ajudou a retirar o Partido dos Trabalhadores (PT) do comando e instaurou uma administração que parece tão contaminada quanto, mas muito menos disposta a promover a transparência e a independência judicial e acrescenta que existem tantas acusações contra Temer e seus aliados que ele terá dificuldade de manter a Presidência até o final de seu mandato, em 2018, ou seja, uma investigação criada para expor a corrupção acabou colocando o líder do partido mais notoriamente interesseiro do país no topo do poder.
O artigo ressalta que as recentes reduções do orçamento da polícia federal em 44% e do número de agentes da corporação seriam tentativas do governo brasileiro de “dificultar a operação Lava Jato”.
O noticiário observa que os desdobramentos da Lava Jato desde seu início, em 2014, modificaram a “cultura de impunidade que por muito tempo reinou no Brasil” e reverencia o papel do juiz federal Sérgio Moro, que ajudou a pressionar suspeitos através da autorização de prisões preventivas.
O autor salienta que grandes empresas e políticos conhecidos foram “totalmente desacreditados” e que os eleitores agora encontram dificuldade “de escolher alguém em quem pudessem confiar”. Com isso, “não só o establishment está estremecido, mas toda a república” brasileira.
Jonathan opina que era para o Partido dos Trabalhadores supostamente ser diferente. Ele foi eleito com a promessa de limpar a corrupção, mas logo foi engolido (pelo esquema), mas acredita que Lula conseguiu “um progresso impressionante com relação a redução da pobreza, gastos sociais e controles ambientais”, mas que pelo fato de terem sido aprovadas no Congresso com a ajuda de suborno, “essas reformas foram erguidas sobre uma areia movediça ética”.
Guardian analisa que a cena política no país “é altamente vulnerável a corrupção”. “É quase impossível que um partido político consiga maioria…chegar ao poder significa vencer eleições e pagar outros partidos para formar coalizões, e as duas coisas requerem altas quantias de dinheiro”.







