Do UOL – A segunda etapa da audiência de instrução e julgamento de Thiago Brennand acontece hoje (21), na 2ª Vara de Porto Feliz, no interior de São Paulo. De acordo com Tribunal de Justiça de São Paulo, serão ouvidas duas testemunhas de defesa e o réu. A defesa do empresário vai alegar que a acusação reuniu relatos para transformá-lo em uma figura “absolutamente negativa”.
O que alega a defesa
A audiência é por videoconferência. Na primeira etapa, que ocorreu no fim de maio, foram ouvidas por cerca de quatro horas três testemunhas de defesa e a mulher norte-americana que acusa Brennand de estupro. O caso tramita em segredo de Justiça.
A defesa de Brennand é atualmente representada pelos advogados criminalistas Alexandre Queiroz e Roberto Podval — o segundo já defendeu o ex-ministro José Dirceu e o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá.
“Houve um trabalho feito pelo assistente de acusação para transformá-lo de forma genérica em uma pessoa ruim. Se julgarem não a capa dos autos, mas os processos, vamos mostrar caso a caso quem ele é”, disse Podval ao UOL. O assistente de acusação representa 12 mulheres que acusam Brennand de diferentes crimes. Os relatos apontam para um modo de agir semelhante, com ameaças, intimidações e abusos.

É o primeiro julgamento de Brennand — que, no total, é reu em nove processos. No depoimento, a norte-americana relatou ameaças, intimidações e descreveu como teria ocorrido o abuso sexual. Ela chega a dizer que “sangrou” por duas semanas após o ato sexual sem consentimento.
A defesa do empresário alega que não houve crime de estupro. “Temos provas sérias e robustas de que não houve ali um estupro. Houve uma relação amigável durante meses. As provas que nós temos não demonstram agressividade dele em relação a ela. Vamos tentar demonstrar isso, com muito cuidado para não ofender ninguém”, complementou Podval.
Nos dias que antecederam a audiência, Brennand estava ansioso, segundo o advogado. “A ideia é esclarecer os fatos, vamos falar a verdade sobre o que aconteceu. Neste caso, a acusação é equivocada: Não houve um estupro.”

‘Não dá para criar uma imagem monstruosa’
O empresário teve a prisão decretada em seis processos. Podval disse que a defesa trabalhará caso a caso separadamente. A defesa alega que há uma “grande diferença” entre as acusações de estupro e as imagens de câmeras de segurança da academia que flagraram as agressões contra a modelo e empresária Helena Gomes.
Brennand já foi representado por ao menos quatro equipes diferentes de advogados. “É um caso complexo por ser muito midiático”, afirma Podval, que conheceu o empresário no CPD (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Ele descreve o cliente como “pessoa culta, educação e polida”.
Podval disse que, durante a audiência, a estratégia utilizada será desconstruir a “imagem de figura monstruosa”.
“Não vou colocar que [Thiago Brennand] seja um santo, mas não é o demônio que foi pintado.” – Roberto Podval, advogado que atua na defesa do empresário
Mudança de advogados
Fontes que aturaram nos escritórios de advocacia que já trabalharam para Brennand relataram que o empresário chegou a desqualificar estratégias utilizadas pelas defesas. Uma das equipes teria sugerido que o empresário apresentasse um laudo psiquiátrico no processo — ele teria recusado.
Entre os profissionais que o representaram está uma mulher. O UOL apurou que Brennand não teria se sentido confortável em ser representado por uma advogada. Além disso, quando outras acusações envolvendo o empresário começaram a surgir, a própria advogada teria decidido abandonar o caso. Procurada, ela não retornou contato.

Brennand questionou caminhos traçados pelas defesas anteriores. Pessoas ligadas aos escritórios disseram que a recomendação é que ele evitasse falar com a imprensa. Contudo, em algumas situações ele “queria resolver as coisas à moda dele”.
Às defesas que o representaram anteriormente, o empresário dizia que “era vítima de uma grande injustiça”.
O que diz o advogado das mulheres
O advogado que representa as mulheres que acusam Brennand, Márcio Janjacomo, afirmou que suas clientes estão “confiantes na primeira condenação, pois com a notícia da prisão do réu novas vítimas nos procuraram e já estamos encaminhando-as ao Ministério Público”.
“Ao contrário do que a defesa tenta passar, os inúmeros depoimentos de vítimas que nem sequer se conheceram e de nacionalidades distintas só comprova o modus operandi do réu, tanto que os novos elementos dito como apresentados não foram suficientes para abalar esse fato. Quanto à arguição de que não houve estupro, é papel da defesa negar.” – Márcio Janjacomo, advogado das mulheres, em nota