Do UOL – Na ordem de busca e apreensão de documentos realizada ontem na 13ª Vara de Curitiba, um item destacado pelo ministro Dias Toffoli chamou a atenção: ao redigir a decisão, o magistrado descreveu a necessidade de a Polícia Federal ter acesso a arquivos, depoimentos, delações, inquéritos policiais, “caixas e afins —em especial a caixa de arquivo amarela relativa aos autos de 2008”.
Segundo pessoas a par da investigação, a tal caixa de arquivos amarela teria sido descrita pelo ex-deputado Tony Garcia, detonador da apuração no STF, como detentora de arquivos de vídeo e escutas ambientais feitas por ele junto a autoridades do Judiciário e do Tribunal de Contas do Paraná, por ordem do então juiz Sérgio Moro e de procuradores do Paraná.
Em depoimentos à PF, Garcia afirmou que algumas gravações obtidas por ele tinham conteúdo de foro íntimo. Ele colheu o material depois de firmar um acordo de delação premiada com Moro, após ser preso durante apuração de esquema de desvio em um consórcio. Ex-deputado estadual, ele teria sido escalado para executar “missões”, entre as quais apurar eventuais viagens recreativas de magistrados e encontros pessoais.

Para manter a delação, Garcia infiltrou um policial federal em seu escritório, instalou escutas ambientais e passou a orientar os investigadores a grampearem números usados pelos alvos na ocasião. O acordo foi firmado em 2006. As “missões” estão registradas por escrito. O termo da colaboração foi mantido em sigilo por quase 20 anos, e só caiu quando o ex-deputado conseguiu levar ao STF sua queixa contra a ação de Moro e procuradores que depois atuaram na Lava Jato.
Hoje senador, Moro afirmou ao UOL que o relato de Garcia é fantasioso, quando questionado sobre a operação de ontem na vara que um dia comandou. “A defesa do senador Sergio Moro não teve acesso aos autos do inquérito, instaurado com base em um relato fantasioso de Tony Garcia. Não houve qualquer irregularidade no processo de quase 20 anos atrás que levou à condenação de Tony Garcia por ter se apropriado de recursos de consorciados do Consórcio Garibaldi.” Moro diz ainda que o caso não deveria estar sob análise do STF, “como o próprio PGR afirmou”.
“O senador não tem qualquer preocupação com o amplo acesso pelo STF aos processos que atuou como juiz. Essas diligências apenas confirmarão que os relatos de Tony Garcia são mentirosos.”








