Do G1 — “Ele era uma pessoa praticamente invisível. Não tem registro de passaporte dele no nosso sistema, não tem registro de viagem que ele fez, principalmente, de avião.” Foi assim que a Polícia Federal (PF) descreveu o italiano Alduino Gianotta, suspeito de integrar uma rede internacional de tráfico de drogas e comandar um esquema criminoso de envio de cocaína da América do Sul para a Europa em navios.
O homem, de 59 anos e casado com uma pernambucana, foi preso na tarde da terça-feira (2). O mandado de prisão expedido pelo ministro Kássio Nunes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi cumprido quando ele estava com a esposa dentro do carro, saindo do condomínio de luxo onde moravam, em Aldeia, em Camaragibe, no Grande Recife.
O italiano foi alvo da Operação Skipper, deflagrada pela polícia italiana, a partir da cidade de Lecce, com apoio da PF.
“Descobrimos o paradeiro dele através de uma informação de que ele vendia imóveis no Brasil. A gente acredita até que dinheiro sujo da cocaína, do tráfico internacional, era utilizado para lavar dinheiro no Brasil com a compra de imóveis”, declarou Giovani Santoro, chefe de comunicação da PF em Pernambuco.

A prisão do traficante foi notícia em vários jornais italianos. O “Piazza Salento” chamou Alduino Gianotta de Pablo Escobar salentino, numa menção ao conhecido traficante colombiano e à cidade italiana de Salento, base do grupo criminoso.
Já o “La Repubblica” destacou que o italiano tinha se mudado com a esposa para Pernambuco, onde negociava imóveis de luxo com o dinheiro da atividade criminosa.
Após ser abordado por policiais federais como se os agentes fossem comprar um imóvel, Alduino Gianotta foi levado para a sede da PF, no Cais do Apolo, no Bairro do Recife, na área central da cidade.
Depois, foi encaminhado para o exame de corpo de delito, no Instituto de Medicina Legal (IML), em Santo Amaro, na mesma região da capital pernambucana. Em seguida, foi para o Centro de Triagem e Observação Criminológica Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife.
“Ele está no Cotel à disposição tanto do Supremo Tribunal Federal como também da Justiça italiana, que deve solicitar a extradição dele para que ele possa cumprir a pena lá na Itália, já que os crimes que ele cometeu foram naquele país”, disse Giovani.

Investigação e prisão
Alduino Gianotta era investigado pela polícia italiana há mais de dois anos. Nesse período, ele foi alvo de oito mandados de prisão preventiva e 18 de prisão domiciliar, mas nunca havia sido encontrado pelas autoridades europeias.
Somente em imóveis e bens dele, as apreensões feitas pela polícia italiana ultrapassam os 4 milhões de euros, o equivalente a quase R$ 26 milhões.
Resultado de um trabalho conjunto entre a PF, a polícia italiana e o Interpol, a prisão de Gianotta ocorreu após uma operação realizada nesta primeira semana de fevereiro pelo esquadrão móvel da polícia da cidade italiana de Lecce. Na ocasião, foram cumpridas ordens de restrição contra 26 pessoas.
Segundo a PF, o esquema criminosa funcionava da seguinte maneira: a cocaína saia da América do Sul em navios, era enviada em navios para armazéns na zona portuária de Amsterdã, na Holanda, e de lá seguia para Salento, que funcionava como a base da organização criminosa, e outras cidades italianas.
“Ele era o gerenciador, o financiador, o articulador para que toda a cocaína que fosse da América do Sul, principalmente da Colômbia e da Bolívia, fosse, primeiro para o Porto de Amsterdã, na Holanda, através de navios, e, da Holanda, ela ia para Salento, na Itália, onde era acondicionada em edifícios dos traficantes e era escoada para toda a Itália”, contou Giovani.
Quando chegava à Itália, a droga era transportada nos bancos traseiros e na mala de veículos. Os contatos entre os traficantes, disse a PF, era feito por meio de celular, com mensagens criptografadas, difíceis de rastrear.







