Por Ricardo Antunes — A sensação que fica do 7 de Setembro bolsonarista é que o presidente habilmente conseguiu mobilizar sua base, mostrar força com milhares de apoiadores nas ruas e dar sobrevida ao governo que enfrenta uma pandemia, alto desemprego e o início de uma crise hídrica e energética que deve aumentar ainda mais a inflação. Não é pouca coisa.
Por outro lado, o total de bolsonaristas presentes hoje na Paulista é, no máximo, pouco mais de 6% do que o Planalto previa poucos dias atrás. O governo falava em colocar 2 milhões de apoiadores nas ruas, mas segundo a PM de São Paulo, os números não chegaram a 115 mil. Em Brasília foram 150 mil, cerca de 5% do esperado. Não trata-se, no entanto, de um fracasso. Mas de uma previsão que nasceu claramente superdimensionada.
Nos discursos, Jair Bolsonaro voltou a ameaçar o Supremo Tribunal Federal e o seu presidente, Luiz Fux, e a exortar à desobediência de ordens do ministro Alexandre de Moraes. Pior para o presidente, que passou uma imagem de que o radicalismo, foi uma saída para responder ao seu isolamento progressivo. Importante lembrar, que nenhum chefe de Poder nem governador perfilou-se ao seu lado na manifestação que comemorava a Independência do Brasil.
A nota positiva, no entanto, ficou pelo caráter pacífico do ato, apesar das ameaças do seu principal protagonista.
MISSÃO CUMPRIDA
Bolsonaro cumpriu sua missão de manter sua base “eletrizada” no 7 de Setembro. Após atacar Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso e ameaçar um ruptura institucional, “tias do zap”, líderes evangélicos, produtores rurais e “patriotas” das mais variadas estirpes saíram do ato ultraengajados na campanha de 2022.

SEM QUÓRUM
Sem a adesão dos principais chefes de Poderes, Jair Bolsonaro deve desistir da reunião do Conselho da República que seria convocada para amanhã. Havia o risco de que apenas ele, o ministro da Justiça, Anderson Torres, e o líder da maioria na Câmara, o deputado Diego Andrade (PSD-MG), participassem do encontro.
BALANÇO
Do outro lado, o presidente da República convocou uma reunião ministerial, às 9h30, com todos os seus ministros para fazer uma avaliação dos atos de 7 de Setembro, realizados hoje.
IMPEACHMENT
Diante das ameaças de ruptura institucional de Bolsonaro, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, anunciou no Twitter que convocou uma reunião de emergência para amanhã, na qual será discutida a posição do partido em relação a possível processo de impeachment de Jair Bolsonaro.
ARREPENDIMENTO
Ex-apoiadores de Bolsonaro, como João Doria (PSDB), João Amoêdo (Novo), Junior Bozzella (PSL), Paulinho da Força (SD), e o ex-juiz Sérgio Moro também criticaram o caráter antidemocrático das manifestações. “Todos temos o direito de protestar, mas a defesa da liberdade deve reforçar a verdade e a democracia, não diminuí-las”, escreveu o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro.

CONTRA-GOLPE
Além do impeachment, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, defendeu atos contrários ao governo. “Éramos poucos, mas agora estamos começando a ser muitos. No próximo domingo, seremos milhões”, disse ele. No próximo domingo, dia 12, haverá as manifestações contra Bolsonaro convocadas por Vem Pra Rua e MBL.
FRENTE AMPLA
O presidente do PDT, Carlos Lupi, disse que pretende fazer uma reunião com presidentes de vários partidos, tanto de centro quanto de esquerda, para intensificar as articulações a favor do impeachment de Jair Bolsonaro. Para o dirigente partidário, os ataques à democracia feitos por Bolsonaro no discurso feito na Esplanada dos Ministérios são inaceitáveis.
CRÍTICAS
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), também se pronunciou sobre a participação de Jair Bolsonaro (sem partido) em atos com pautas inconstitucionais e antidemocráticas.
EM CAMPANHA
“Infelizmente, ele está em campanha permanente e não governa o país”, disse o gestor. Paulo Câmara e Bolsonaro se encontraram durante visita do presidente ao Recife, na sexta-feira (3). Eles participaram da solenidade de passagem do Comando Militar do Nordeste, no bairro do Curado, na Zona Oeste da capital.

FAKE
Na tentativa de turbinar os atos contra Jair Bolsonaro nesta terça-feira, o PT acabou usando uma foto de um protesto em 2016 em suas redes sociais.
RECIFE GIGANTE
“Recife tá gigante”, diz a legenda do partido para uma foto postada no Twitter, com a imagem de uma manifestação vista de cima de um prédio. Ocorre que a mesma foto havia sido postada em 7 de setembro de 2016 — governo Michel Temer — por um internauta.
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