Por André Beltrão – Inimigos ideológicos de processos de privatização, os vereadores de esquerda do Recife até agora não deram um “piu” sequer contra a privatização dos parques públicos do Recife por 30 anos, iniciada efetivamente no domingo (10) nos Parques da Jaqueira, Santana e Apipucos, na Zona Norte, e Dona Lindu, na Zona Sul.
O começo da gestão privada dos parques, uma das bandeiras da primeira gestão do prefeito João Campos (PSB), gerou protestos nas redes sociais. “Os vereadores estão todos caladinhos. Está demais o silêncio deles”, queixou-se um leitor ao Blog. “Os parques vão ter tudo, menos natureza, tranquilidade e área verde”, lamentou o perfil juliana.silva.60 no Instagram.
Dos 37 vereadores do Recife, nada menos do que 54% pertencem a partidos de esquerda, num total de 20, dos quais 14 são do PSB, legenda de João Campos. Nenhum deles reagiu aos protestos nas redes sociais. Jô Cavalcanti (PSOL), Cida Pedrosa (PCdoB) e Kari Santos (PT), por exemplo, silenciaram.
Outra que ficou calada sobre as reações à concessão foi Liana Cirne, do PT. Ela foi eleita e reeleita por sua liderança ativa nos protestos do Movimento Ocupe Estelita (MOE), que em 2014 impediu a construção de 13 prédios no Cais José Estelita, em frente à Bacia do Pina, que seria um processo explícito de privatização de área pública.

Em vídeo postado no Instagram na manhã desta terça-feira (12), Liana aborda suas preferências, incluindo as culinárias, como cuscuz com ovo e bolo de rolo. Não há nenhuma menção ao início da concessão dos parques.
A concessão à iniciativa privada dos quatro parques urbanos foi concretizada em julho do ano passado em leilão na Bolsa de Valores de São Paulo, vencido pela empresa Viva Parque Brasil, que está pagando à Prefeitura do Recife R$ 338,9 milhões por uma gerência de 30 anos. Uma das primeiras iniciativas da Viva Parque foi demolir a pista de bicicross do Parque da Jaqueira para colocar no lugar um restaurante, um parque infantil e uma quadra poliesportiva, gerando protestos e até passeatas.
João Campos justifica que a concessão permitirá à prefeitura direcionar para despesas prioritárias R$ 12 milhões que gasta por ano com a manutenção dos quatro parques. “Tenho certeza de que o Recife vai viver um modelo de gestão de espaço público com muita qualidade e democracia”, proclamou ele, no último dia 20 de fevereiro. Os parques abocanhados pela empresa somam uma área de 172,6 mil m².