Os dois ataques de tubarão ocorridos em menos de 15 dias, na área da Igrejinha de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, tiveram grande impacto em Pablo Diego Melo, de 37 anos. Em abril de 2018, ele perdeu o braço e aperna ao ser mordido por um animal, no mesmo trecho. “Não entro no mar de jeito nenhum. Tenho pesadelos até hoje”, declarou (veja vídeo acima).
Ex-estudante de educação física, Pablo foi a 11ª vítima de ataques de tubarão entre os 14 que ocorreram na área da igrejinha e um dos sete sobreviventes. Em julho de 2021, dois banhistas sofreram lesões graves no mesmo local.
No dia 10 de julho, o auxiliar de serviços gerais Marcelo Rocha Santos, de 51 anos, morreu após ter uma mão arrancada e um ferimento profundo na coxa (veja vídeo acima).
No domingo (25). Everton dos Reis Guimarães, de 32 anos, sofreu ferimentos na coxa e nas nádegas e foi levado ao Hospital da Restauração, no Recife, onde ainda está internado “consciente e orientado”.
Ao todo, Pernambuco registrou 68 incidentes com tubarões, desde 1992. Quatro casos aconteceram em Fernando de Noronha e outros 63 no litoral pernambucano, segundo dados do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit).
Por causa desses dois casos, o trecho de 2,2 quilômetros, entre a igrejinha e o Hospital da Aeronáutica, está interditado para banho, desde terça (27).
O decreto foi assinado pela prefeitura de Jaboatão, após recomendação do Cemit. No fim de semana, os guarda-vidas terão trabalho para evitar que as pessoas entrem no mar (veja vídeo abaixo)

Essa medida é defendida por Pablo Diego, que, atualmente, faz palestras para alertar as pessoas sobre os riscos de ataques de tubarão no litoral pernambucano.
“Eu digo para as pessoas que aconteceu comigo e que pode acontecer com elas”, declarou. Pablo diz que fica triste quando sabe de novos ataques. “As pessoas têm que se conscientizar”, afirmou.
Com os novos ataques, o rapaz lembrou como a vida dele teve uma mudança grande, desde o ataque. Em vez das partidas de futebol, do surfe e das brincadeiras com os amigos, Pablo vive com uma perna adaptada e não tem parte de um dos braços.
Por isso, largou a faculdade e ainda tem fortes lembranças de como tudo aconteceu. “Eu lutei muito com o tubarão para estar aqui. Bati nele. Perdi muito sangue e tive muita dor. Foram ferimentos gravíssimos”, contou.
O rapaz passou 48 dias internado no HR. Também passou por um período de readaptação e de recuperação da mão que não foi amputada. Atualmente, tem 30% de capacidade de movimentos.
Faz fisioterapia e ainda sonha com uma prótese para o braço. Trabalhava como motorista e hoje vende doces nos ônibus e no metrô para sustentar seis filhas. “Graças a deus, ganhei uma perna articulada do médico que fez o meu tratamento”, afirma.
Mesmo depois de tudo o que passou, o rapaz diz que não perdeu os sonhos. “ Não tem tristeza. Queria ser atleta paraolímpico”, declarou.

Na área do ataque, não só Pablo fica apreensivo e com medo de novos incidentes com tubarões. No fim de semana, os guarda-vidas terão trabalho para orientar os banhistas sobre a interdição do mar.
O biólogo Leandro Alberto explicou os motivos de esse local ser perigoso para banho de mar (veja vídeo acima).
Segundo ele, a região tem uma profundidade de mais ou menos dois a três metros e, logo após, passando por essa faixa, há uma área de um canal que tem a profundidade de 5,5 metros a 6,5 metros. Isso faz com que esses peixes maiores, esses tubarões, possam entrar nessa área e se alimentar.
De acordo com ele, a população utiliza para banho e ocorrem os descartes de lixo e de latinhas de alumínio. Assim, esses animais têm a percepção e, como qualquer bicho curioso, vai para o banco de areia.