Weintraub chama erros do ENEM de probleminha
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, minimizou os erros do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2019 chamando-os de “probleminhas” e citou ter havido uma “linha extremamente terrorista” para desacreditar a prova por parte de políticos, da imprensa e de alguns grupos econômicos, sem citar nomes.
Ao apresentar gráficos sobre o nível de percepção de candidatos em relação ao Sisu (Sistema de Seleção Unificada), ou seja, a satisfação perante o processo, o ministro disse que no primeiro dia da divulgação das notas “teve esses probleminhas, mas, a partir daí, se vocês notarem, foi muito próximo de 100%”.
Leia também: Gráfica sem licitação, vazamento, notas erradas… Por que o Enem de Weintraub deu errado?
Weintraub afirmou reconhecer que a edição do Enem do ano passado não foi “perfeita”, mas lembrou de problemas ocorridos em governos anteriores e criticou fortemente a imprensa e supostos militantes.
“É inequívoco que no Brasil, ao longo dos últimos anos, houve uma judicialização de questões políticas. Mesmo esse Enem, desde 2018, desde o começo do ano passado, houve a pretensão de paralisar o processo. Desde o começo do ano passado fala-se que não vai ter o Enem. E houve”, disse.
“Porque o objetivo é gerar terror, desmobilizar a sociedade. […] Desde o começo, alguns grupos parlamentares, alguns grupos econômicos e alguns meios de comunicação hegemônicos adotaram uma linha extremamente terrorista no processo”, declarou.
O ministro foi convidado a comparecer à Comissão de Educação após requerimentos dos senadores Randolfe Rodrigues (REDE-AP), Fabiano Contarato (Rede-ES) e Humberto Costa (PT-PE).
Leia também: MPF recebe queixas em série sobre notas do ENEM, e Governo teme processos
O convite se dá após problemas na correção de provas do Enem do ano passado. Segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pela realização da prova, o erro afetou 5.974 de candidatos, o que representa 0,15% dos inscritos que fizeram as provas em 3 e 10 de novembro.
O Inep alegou que o erro foi provocado por uma das gráficas que imprimiram a prova. Os resultados do Enem e do Sisu, que permite o acesso de estudantes à universidade, foram divulgados após reparação das notas e brigas judiciais.
O ministro disse que começou a perceber reclamações sobre as notas do Enem ao entrar no Twitter e ver pedidos de revisões por parte de estudantes que não pareciam “militantes” nem ter intenções “maldosas”.
Segundo o ministro da Educação, houve três categorias de internautas que interagiram com a pasta nas redes sociais na época de pedidos de revisões de notas. A primeira seria de “militante que se passava por aluno” para perturbar a ordem e disseminar o que seria um caos no Enem. Estes foram descartados pela assessoria do MEC ao tentar identificar os alunos com supostos problemas nas notas, disse.
Ele também disse ter havido pessoas que não estavam entendendo o processo, posteriormente então orientadas. Por último, afirmou, houve aluno que foi mal e queria dizer que “a culpa foi do Abraham”, referindo-se a si próprio em terceira pessoa.
“Os pais acionam [o MEC], a gente atende o pai e fala que, infelizmente, ficou para o próximo ano. Houve muito ruído”, falou.
Matéria Relacionada: A desastrada gestão do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
Weintraub afirmou que o Ministério da Educação atuou para corrigir os erros rechecando todas as provas e ninguém foi prejudicado, pois as notas já estavam arrumadas quando da inscrição do Sisu. O ministro voltou a apontar um engasgo na máquina de uma gráfica responsável pelas impressões como um motivo para os erros nas pontuações.
Questionado sobre a expectativa para a audiência ao entrar na sala da comissão, Weintraub disse achar que seria “tranquilo”. Ele foi recebido pelo presidente do colegiado, Dário Berger (MDB-SC), e pelo líder do governo no Senado, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).
Na avaliação do ministro, parte da imprensa tem “má vontade” perante o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele mostrou matérias do G1, do Estadão e da Folha de S. Paulo que apresentam o que seriam distorções e mentiras, ao seu ver.
Embora houvesse pessoas com camisetas da UNE (União Nacional dos Estudantes) para acompanhar a audiência, não houve protestos quando o ministro apareceu. Marcada para as 11h, a comissão começou esvaziada embora 16 senadores já tivessem registrado presença.
Matéria Relacionada: Absurdo: MEC recebe e não usa mais de R$ 1 bilhão recuperado na Lava Jato
Em primeira parte da fala, disse estar na comissão para “quebrar um pouco a chuva de fake news com a qual nos deparamos” e ter ficado mais calado nos últimos dias em respeito à Justiça, que analisava casos de eventuais erros.
Ao longo da fala na comissão, o ministro da Educação se centrou em reiterar ataques ao PT. Além de criticar edições passadas do Enem que tiveram problemas nos governos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT), ele falou que pretende investir R$ 1 bilhão recuperados da Operação Lava Jato em creches para 1,1 milhão de crianças no Norte e Nordeste.
“Muito melhor do que a utilização prévia do governo do PT que era roubar esse dinheiro e mandar para fora”, afirmou.
Weintraub também se defendeu do direito de responder como preferir em seu perfil no Twitter. Conhecido por às vezes xingar internautas que falam mal dele na rede social, o ministro alegou liberdade de expressão.
“Se o meu jeito causa certo mal-estar, acho que está no jogo democrático”, disse.
Até a última atualização desta reportagem, não houve registro de tensão no colegiado. Um dos momentos de maior confronto foi quando o senador Randolfe Rodrigues chamou a gestão do ministro de incompetente e disse que as ações de Weintraub à frente da pasta justificam sua saída da Educação.
Weintraub chama erros do ENEM de probleminha
Leia também:
MEC muda Future-se após baixa adesão
Rodrigo Maia detona o ministro da Educação
Weintraub chama erros do ENEM de probleminha