Por Fernando Castilho
Afinal, quando a próxima campanha política começar na TV, quantas vezes os candidatos vão aparecer em rede nacional para pedir o seu voto? Com 31% das preferências nas intenções de voto, o ex-presidente Lula (cumprindo pena em Curitiba, condenado por corrupção) e se o seu partido conseguir registrar candidatura à Presidência da República, teria exatos 1 minuto e 35 segundos de tempo para aparecer na TV durante a campanha.
Ou três comerciais de 30” (os demais 5” seriam somados e a cada seis dias poderia ter quatro aparições. Jair Bolsonaro, que tem 15% das intenções na Pesquisa Data Folha, apareceria uma vez a cada três dias já que seu partido (PSC) tem direito a apenas 10”. Marina Silva, que tem 12% nas pesquisas, também só apareceria uma vez a cada três dias já que o Rede detém 0’12”. Geraldo Alckmin apareceria ao menos duas vezes por dia, Michel Temer (ou seu candidato) teria três aparições, pois, o MDB, sozinho, tem 1’26” do tempo de TV e o PSDB 1’18”.
O problema de Lula, de Bolsonaro e de Marina é a capacidade deles se juntarem com grandes e médios partidos. No caso do PT, as posições atuais em manter a candidatura de Lula tornam quase nulas a possibilidade de, por exemplo, uma aliança do PT com o PDT de Ciro Gomes e o PC do B, por exemplo, que fariam o ex-presidente ter cinco comerciais de 30” no horário político, por dia.
No caso de Bolsonaro e Marina as chances de agregar mais tempo teriam que vir partidos como o PR (no caso de Bolsonaro) e com algum outro partido de esquerda, no caso de Marina. O problema desses partidos está nos adversários. Especialmente, os grandes MDB e PSBD. Para se ter uma ideia da desproporcionalidade do que isso representa, basta ver o que aconteceria se, por exemplo, o PSDB atrair o PP, PR, PTB, PSD e até mesmo o PSB de Paulo Câmara, que fariam o tempo subir para astronômicos 5’12” fazendo Geraldo Alckmin aparecer 12 vezes por dia.
No caso de Michel Temer (se ele for candidato), uma coligação com os mesmos partidos (PP, PR, PTB, PSD) mais o DEM de Rodrigo Maia, faria o candidato do governo aparecer ao menos 10 vezes por dia na campanha. Dito de outra forma: Quem conseguir atrair na sua coligação gente como o PP, PR, PTB, PSD, PRB e DEM pode simplesmente “dominar” a campanha na TV, enquanto os demais vão praticamente desaparecer nos 45 dias que a campanha durar. Essa desproporcionalidade exibe uma face cruel da campanha a presidente no Brasil.

Os grandes partidos têm um enorme poder de atração dos partidos satélites como é o caso do PP, PR, PTB, PSD e até mesmo o DEM que, por enquanto, mantém Rodrigo Maia na disputa. Isso na campanha quer dizer que, na disputa eleitoral, vai haver um bombardeio de comercias dos candidatos dos grandes partidos na TV, que vão atrair os partidos médios com promessa de apoio no futuro governo.
Tem mais: O MDB está no governo e tem mais poder de atração que mesmo o PSDB. Para facilitar a vida desses dois gigantes, o PT não está com uma política de alianças como fez no passado, o que praticamente jogou no colo do PSDB e do MDB os partidos que fecharam com o PT anteriormente como o PP, PR, PTB, PSD e o PDT. O tempo de TV vai ser decisivo.
Mas, a estrutura que esses partidos intermediários darão aos candidatos do PSDB e MDB nos estados, praticamente, os colocam numa das vagas do segundo turno. Mesmo que o ex-ministro Joaquim Barbosa (PSB), Bolsonaro (PSL) e Marina (Rede) estejam bem nas pesquisas, isso terá uma fortíssima mudança quando começar a campanha. Na prática, eles vão “sumir” da TV e só poderão aparecer se provocarem fatos políticos.
Tanto que Marina já decidiu usar seus minguados comerciais para chamar seus eleitores para a internet. Bolsonaro, se não atrair um partido intermediário, terá de fazer a mesma coisa. Os demais nem isso. Claro que tempo de TV não garante voto. Mas, imagina Alckmin e o candidato do MDB com suas megaestruturas nos estados e com 10 ou 12 comerciais por dia na TV? E Bolsonaro e Marina aparecendo uma vez a cada três dias?
Tem mais: a junção de partidos como o PSDB e MDB com os partidos médios quer dizer estrutura de campanha nos estados com centenas de candidatos (com potencial de eleição para a Câmara Federal e nas Assembleias Legislativas) pedindo voto para o candidato a presidente. Isso quer dizer que haverá campanha para esses candidatos mesmo que eles nunca apareçam nos estados.
Os candidatos nanicos não terão essa estrutura pedindo votos nos estados. Resumindo: Os nanicos podem até fazer barulho nas mídias digitais e aparecerem nas pesquisas. Mas, na hora do vamos ver, o jogo vai ser diferente. E por mais perturbador que isso possa parecer, haverá enormes possibilidades de elegermos não só a maioria dos mesmos deputados hoje citados na Lava Jato, como elegermos um presidente apenas pela força das estruturas partidárias. Aliás, as leis criadas em 1988 pelos deputados são exatamente para isso.






