Da Redação do Blog — No começo de 2022, Jair Bolsonaro presenciou o fracasso de sua primeira estratégia em angariar votos entre a população mais carente. A criação do Auxílio Brasil não teve o impacto desejado nas pesquisas. O presidente, então, decidiu aumentar as apostas e contou com o apoio da Caixa Econômica Federal.
Por meio de uma medida provisória, foram estabelecidas duas linhas de crédito na Caixa voltadas para esse segmento de eleitores. Até as eleições, o banco estatal concedeu R$ 10,6 bilhões a 6,8 milhões de pessoas.
Entretanto, Bolsonaro não foi reeleito, e essa política de crédito facilitado deixou um enorme rombo nas contas do banco, que só agora está sendo revelado. O portal UOL obteve acesso e divulgou as informações que eram mantidas em sigilo pela Caixa e foi exposto como o banco estatal de 162 anos foi utilizado como ferramenta da campanha de Bolsonaro, recorrendo a manobras obscuras e falta de transparência, o que expôs a instituição a um nível de risco sem precedentes na história recente.

Como aconteceu
O presidente e o então presidente da Caixa, Pedro Guimarães, assinaram duas medidas provisórias para criar linhas de crédito voltadas para eleitores de baixa renda.
Uma das linhas de crédito, chamada SIM Digital, visava conceder microcrédito a pessoas com restrições financeiras. No entanto, o programa teve altos índices de inadimplência, chegando a 80% neste ano. O rombo causado por esse programa será parcialmente coberto com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
A outra linha de crédito permitia empréstimos consignados vinculados ao Auxílio Brasil. Durante o intervalo entre o primeiro e o segundo turno das eleições, a Caixa liberou R$ 7,6 bilhões para essa finalidade. No entanto, o programa é criticado por reduzir o valor do benefício social para pagar o empréstimo, resultando na exclusão de mais de 100 mil devedores do Bolsa Família neste ano, e o pagamento das parcelas do crédito é incerto.
As mudanças interromperam os planos de Bolsonaro para o SIM Digital. As pesquisas mostraram um efeito modesto nas intenções de voto, com Bolsonaro aumentando de 19% para 22% entre os mais pobres, enquanto Lula subiu de 54% para 55%. Enquanto isso, o governo enfrentava desafios na implementação do consignado do Auxílio Brasil, que envolvia descontar as parcelas diretamente do benefício.
A regulamentação foi concluída em setembro de 2022, e a oferta do consignado começou em outubro, com juros mais altos e grande procura. A Caixa foi responsável por 80% dos créditos, mas logo após as eleições, cortou o consignado sem aviso público. A Caixa concedeu 99% do consignado durante o período eleitoral, mas apenas 1% depois, levando o TCU a investigar o caso. Até o momento, a Caixa não forneceu explicações públicas sobre os dados.
Resultado: rombo na Caixa
As medidas provisórias de Bolsonaro levaram a Caixa a reduzir seus ativos de alta liquidez, resultando em um montante de R$ 162 bilhões no final do ano eleitoral, o menor da série histórica. A diminuição da liquidez foi devido à execução de programas governamentais, como o microcrédito e o consignado do Auxílio. Esse problema representa uma herança controversa para o próximo governo.
Os dados precisos sobre o risco assumido pela Caixa durante as eleições ainda são desconhecidos, pois os números trimestrais não refletem o período pós-eleições, quando o banco cortou radicalmente novos créditos como parte de um plano de contingência sigiloso para recuperar a liquidez. Os pedidos de divulgação desses indicadores foram negados, e a falta de transparência levanta questionamentos.









