Por Luiz Roberto Marinho – Apesar de tombado na prática, o histórico Teatro Valdemar de Oliveira, na Praça Osvaldo Cruz, no bairro da Boa Vista, no coração do Recife, está totalmente abandonado, a tal ponto que tornou-se um problema de saúde pública. A denúncia, feita ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), cobra providências do governo do estado e da prefeitura na preservação e recuperação do teatro.
A acusação, protocolada no MPPE pelo grupo cultural João Teimoso, atuante há 23 anos, relata que a marquise do primeiro andar do imóvel virou abrigo permanente de moradores sem teto e que o fosso do palco transformou-se, com as chuvas, numa piscina de água parada com potenciais focos do mosquito da dengue. “O teatro, como está, é um perigo à saúde pública”, alerta a denúncia ao MPPE.
Após ruidosas manifestações de rua da classe artística, em setembro de 2023 a Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco) abriu o processo de tombamento do Teatro Valdemar de Oliveira. Pela legislação estadual de tombamento, a simples abertura do processo já tomba o imóvel, na prática.

Estabelece o parágrafo 5º do artigo 2º da Lei 7.970/1979 que a abertura do processo “assegura ao bem em exame, até a resolução final, o mesmo regime de preservação dos bens tombados”.
O edital da Fundarpe publicado no Diário Oficial em 22 de setembro de 2023 comunicando a abertura do processo para o Teatro Valdemar de Oliveira repete o dispositivo da lei. Assinala que “estão asseguradas ao referido imóvel as mesmas prerrogativas de bem efetivamente tombado”. O objetivo do tombamento visa, justamente, a preservação do imóvel, de modo a impedir sua destruição ou descaracterização.
Está ocorrendo o contrário, porém, mais aceleradamente desde novembro de 2023, que é culpa também do TAP (Teatro de Amadores de Pernambuco), dono do teatro, que abandonou o imóvel, denuncia o escritor e professor José Mário Austregésilo.
Em maio daquele ano, informa o diretor-geral do grupo cultural João Teimoso, Oséas Borba Neto, estavam preservadas as poltronas, o vasto acervo da biblioteca, todos os refletores, a sala com os figurinos e os banheiros.
Desde novembro de 2023, contudo, teve início o que ele classifica de “destruição proposital”, por especulação imobiliária de uma construtora, que não identifica qual. Uma casa ao lado do teatro foi demolida, as poltronas foram rasgadas, uma a uma, e houve um incêndio, em fevereiro de 2024. Como se não bastasse, o teatro deve à Prefeitura do Recife mais de R$ 2,2 milhões de IPTU.

Fundado em 1971, como Nosso Teatro, pelo médico, escritor e diretor teatral Valdemar de Oliveira, que acabou dando o nome ao prédio após sua morte, em 1977, o teatro “ está profundamente ligado ao cenário cultural do Recife”, descreve a denúncia ao MPPE. Na opinião de José Mário Austregésilo, o Teatro Valdemar de Oliveira “é um bem público que jamais poderia ser negligenciado”.
OUTRO LADO
Procuramos a assessoria de comunicação social do governo do estado para se pronunciar, mas até agora não obtivemos retorno. O espaço está aberto a manifestações e a reportagem pode ser atualizada a qualquer momento.









