EXCLUSIVO, por Luiz Roberto Marinho — Desemprego e endividamento dos pequenos produtores do Vale do São Francisco serão os efeitos mais perversos da sobretaxação de 50% sobre as exportações brasileiras de manga aos Estados Unidos, que acabaram não sendo excetuadas no decreto do tarifaço assinado nesta quarta-feira (30) pelo presidente Donald Trump.
A previsão foi feita ao Blog pelo gerente-executivo da Valexport (Associação dos Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco), Tassio Lustoza. Segundo ele, a sobretaxa de 50% afetará 35 mil toneladas de manga do Vale do São Francisco previstas para serem comercializadas nos EUA este ano.
Disse Lustoza que será impraticável direcionar as 35 mil toneladas para o mercado europeu, especialmente Holanda e Espanha, os maiores compradores da manga do São Francisco, porque a fruta vendida nos EUA é a do tipo Tommy Atkins, não consumida pelos europeus.
Desviar tal volume para o mercado interno, por outro lado, explodiria a oferta e faria os preços desabarem, não compensando os custos de produção, enquanto a opção do mercado asiático é inviável, pelo tamanho reduzido.

Na visão do gerente-executivo da Valexoport, sem mercado, os produtores de pequeno porte do Vale do São Francisco não terão como quitar os financiamentos contratados para a produção, elevando seu endividamento.
Um outro grave problema a ser enfrentado, acrescentou Tassio Lustoza, é o de que as mangas não poderão ser abandonadas no chão, porque permitiriam a proliferação da temida mosca da fruta, uma praga devastadora para a fruticultura irrigada do Vale do São Francisco. Enterrá-las, como seria o procedimento adequado, exige mão de obra e, em consequência, mais elevação de custos.
De acordo com dados da Valexport,, os Estados Unidos são o terceiro maior importador de mangas do Vale, respondendo por 14% das vendas externas, atrás da Holanda e da Espanha. A agricultura irrigada do Vale responde por 90% da manga exportada pelo Brasil.
As exportações de manga do São Francisco atingiram 258,3 mil toneladas no ano passado, com uma receita em torno de 350 milhões de dólares. A fruta ocupa uma área irrigada de quase 60 mil hectares, enquanto a uva, outro item importante nas vendas externas da região, detém 16 mil hectares.
Encravado no semiárido entre Bahia e Pernambuco, o Vale do São Francisco tem uma área irrigável superior a 360 mil hectares, dos quais 130 mil efetivamente utilizados, com predominância de frutas, incluindo também coco, banana, goiaba, melão, acerola, limão, maracujá, mamão papaia e pinha.
A agricultura irrigada do Vale gera cerca de 250 mil empregos diretos e 950 mil indiretos – isto é, 1,2 milhão de pessoas dependem diretamente da cadeia produtiva da região.









