Por Carlos Madeiro, do UOL – As facções Comando Vermelho (CV) e Nova Okaida travam uma guerra por territórios que já causou oito mortes este ano na pequena Santa Luzia (PB), cidade do semiárido paraibano com 15 mil habitantes.
Um fato em especial chamou a atenção recentemente: as pichações desses grupos estavam por toda parte, como postes e prédios públicos e privados. As dezenas de casos levaram o MP-PB (Ministério Público da Paraíba) a entrar com ação na Justiça para que a Prefeitura fosse obrigada a cobrir as pinturas ilegais.
Na quarta-feira, o juiz Rossini Amorim Bastos, da Vara Única de Santa Luzia, acolheu o pedido e deu 10 dias (a partir da notificação) para a prefeitura realizar a repintura de todos os pontos pichados. Para isso, mandou as polícias acompanharem as equipes municipais.
A denúncia foi oferecida pela promotora Vanessa Bernucci Pistelli, que fez uma inspeção na cidade sob escolta da PM e entendeu que as pichações fazem parte de uma estratégia de guerra psicológica para coagir moradores.
Segundo a promotora, as inscrições funcionam como uma demarcação territorial. “Tais inscrições contêm apologias a organizações criminosas e mensagens intimidatórias à população, deteriorando o patrimônio público e contribuindo para a insegurança urbana e sensação de abandono.”
“Tolerar que o Poder Público seja simbolicamente substituído pelo poder paralelo do crime tem consequências devastadoras para a ordem pública e a paz social. A permanência de inscrições que fazem apologia a organizações criminosas e a obstrução de ruas atentam diretamente contra o bem-estar da população e o desenvolvimento das funções sociais da cidade.” – Rossini Amorim Bastos, juiz de Santa Luzia

O município também foi obrigado a realizar, quinzenalmente e por prazo indeterminado, operações de pintura e remoção de novas pichações e entulhos, “garantindo a ordem urbanística”.
Procurada pela coluna para saber se iria recorrer da decisão, a Procuradoria de Santa Luzia não respondeu. O espaço segue aberto.
Segundo o delegado Eduardo Luna, as pichações foram intensificadas no fim de semana passado por dois homens faccionados. Luna explica que “um viu o outro fazendo”: “A partir daí começou uma ‘guerra de pichações'”.
Ele conta que ambos foram identificados e estão respondendo inquérito. “A tipificação não cabe prisão, mas eles, no interrogatório, confessaram o crime, mostraram arrependimento e se prontificaram a apagar as pichações”, afirma.
Guerra começou após racha
Santa Luzia fica próxima à divisa com o Rio Grande do Norte e é uma passagem importante para Patos, principal cidade do sertão paraibano.
Rodrigo Monteiro, delegado seccional da região de Patos, explica que a disputa entre as facções chegou à cidade por volta do segundo semestre de 2024, quando houve um racha dentro da Nova Okaida.
“Com a expansão do CV pelo Nordeste, alguns membros da Nova Okaida passaram a integrar o grupo carioca, e aí começou a disputa”, explica.
Ele conta que o marco dessa guerra ocorreu com um triplo homicídio registrado em setembro de 2024. “A partir dali a gente intensificou as ações, e em novembro do ano passado realizamos a operação Colosso, quando tivemos mais de 20 presos das duas facções, entre líderes dos grupos e suspeitos do triplo homicídio”, afirma.
Após isso, Rodrigo diz que a cidade deu uma “acalmada” até abril meados de abril, quando os homicídios voltaram a ocorrer. “Aí realizamos a operação Asfixia com suspeitos de homicídio e tráfico.”
Em outubro, houve um recrudescimento da disputa e a polícia realizou uma nova operação, que resultou em prisões e na morte de um suspeito ligado ao CV que teria reagido. “Hoje a situação ainda existe, mas está bem mais enfraquecida”, afirma.
“Fizemos já três grandes operações na cidade, e os mortos que vemos lá são sempre ligados a essa guerra. Todos os homicídios já foram esclarecidos e tiveram os suspeitos presos.”








