Do UOL – O deputado Vicentinho Júnior (PP-TO) e sua esposa movimentaram R$ 170 milhões em seis anos através de uma empresa fantasma suspeita de intermediar propina, segundo relatório da Polícia Federal em um inquérito da Operação Overclean.
Uma planilha apreendida com os empresários Fábio e Alex Parente no final de 2024 mostra, segundo a PF, um controle dos pagamentos de propina relacionados a um contrato na Secretária de Educação de Tocantins.
O documento continha o codinome “Vic”, com pagamentos nas mesmas datas e com os mesmos valores de repasses feitos pelos investigados à empresa da mulher do deputado. A PF apresentou os indícios ao STF e pediu uma busca e apreensão contra o deputado e sua esposa, o que foi negado pelo ministro Nunes Marques, relator do caso. A PGR (Procuradoria-Geral da República) também foi contra a busca.

Procurado pelo UOL, o deputado nega qualquer irregularidade. “Sou um homem disciplinado no meu mandato, nunca fui investigado”, disse. Questionado sobre o motivo dos pagamentos à empresa de sua mulher, disse que são “rotinas da minha vida pessoal”. “Já esclareci nos autos.”
Suspeita de fraude em licitação
A empresa dos irmãos Parente, Larclean Saúde Ambiental, foi contratada pelo governo do estado do Tocantins em uma licitação de 2020, em que a PF vê indícios de fraude para desclassificar sete concorrentes com preços melhores. Dessa forma, a Larclean foi contratada para serviços de dedetização —nos quais, como o UOL mostrou, praticava preço 660% acima do valor de mercado— por R$ 13,6 milhões. Desde então, o contrato ganhou R$ 59,2 milhões em aditivos.
Entre 2023 e 2024, uma empresa dos Parente, BRA Teles, repassou R$ 260 mil à GMD Borba Distribuidora Eireli, suposta distribuidora de bebidas de Gillaynny Marjorie Duarte Borba de Oliveira, esposa de Vicentinho Júnior.
Ao todo, considerando também outros intermediários, a investigação aponta que Vicentinho Júnior e a esposa teriam recebido R$ 420 mil dos empresários, como mostrou o Metrópoles nessa semana.
No endereço em que está registrado o CNPJ da GMD Borba Distribuidora na Receita Federal, em Sítio Novo do Tocantins (TO), há outros estabelecimentos.

Em diligências no local, vizinhos disseram à PF se lembrar vagamente de que lá funcionava uma distribuidora de bebidas há mais de dois ou três anos.
Segundo Vicentinho, a empresa era uma distribuidora de seu sogro, que morreu em abril do ano passado. Os pagamentos da BRA Teles à firma continuaram depois disso, no entanto.
De janeiro de 2019 a abril de 2025, a empresa recebeu R$ 85 milhões em créditos e teve o mesmo valor em débitos, movimentando, portanto, R$ 170 milhões, funcionando, segundo a PF, como uma conta de passagem em nome de Gillaynny.
No caso dos pagamentos da BRA Teles e dos demais registros de repasses dos Parente, a PF acredita que o verdadeiro destinatário do dinheiro seria Vicentinho.
É possível afirmar, com elevado grau de certeza, que os valores descritos à planilha de controle de pagamento de propina, relacionados ao codinome ‘VIC’, teriam sido, de fato, canalizados a VICENTE ALVES DE OLIVEIRA JUNIOR (Vicentinho), por meio da GMD Borba Distribuidora Eireli, registrada em nome da cônjuge do deputado federal. – Relatório da Polícia Federal
A PF pediu ainda o bloqueio de R$ 420 mil em bens de Vicentinho e sua mulher, o que Nunes Marques também negou, considerando não haver elementos o suficiente contra eles na investigação.
Na decisão, ao negar os pedidos de busca e bloqueio de bens, o ministro disse que a PF não comprovou a conexão entre os pagamentos à empresa da esposa do deputado e a fraude licitatória.

Outros investigados
A planilha revela também repasses a outros investigados por fraude à licitação, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, segundo a análise da Polícia Federal. Os valores da suposta propina são:
- Claudinei Aparecido Quaresemin, ex-secretário de Parcerias e Investimentos de Tocantins, conhecido como Nei, codinome ‘NE’ – R$ 15 mil por mês
- Danilo de Azevedo Costa, ex-secretário de Educação de Tocantins, codinome ‘Dan’ – R$ 10 mil por mês
- Luiz Cláudio Freire de Souza França, advogado e segundo secretário nacional do Podemos, suspeito de dar apoio ao esquema em Brasília, codinome ‘Fran’ – R$ 10 mil por mês
- Itallo Moreira de Almeida, ex-integrante da secretaria de Educação, codinome ‘Ita’ – R$ 10 mil por mês
- Éder Martins Fernandes, codinome ‘CAB’, ex-secretário executivo da Educação – Repasses de, no total, R$ 4,4 milhões.
A defesa de Danilo disse, em nota, que não há ligação entre ele e o codinome”Dan” e que não há prova de que ele tenha recebido valores ilícitos. “A defesa já identificou inconsistências na atribuição de diálogos telefônicos, que não correspondem a Danilo, indicando confusão com homônimo que figura na investigação”, disse.
“Ressalte-se que a planilha mencionada foi apreendida em 2024, quando Danilo de Azevedo já havia deixado o governo do Tocantins no final de 2021, sem manter vínculos posteriores com a administração estadual.”
Todos os demais citados acima foram procurados pelo UOL, mas ainda não responderam. O espaço está aberto para eventuais manifestações.
Empresas dos Parente
A Operação Overclean investiga uma rede de empresas ligada aos Parente e ao empresário Marcos Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, e suas ligações com políticos para viabilizar contratos públicos.
Os Parente atuavam principalmente nos ramos de pavimentação e limpeza urbana em municípios da Bahia, mas os contratos e os fatos investigados se estendem a outros estados, como Tocantins, Goiás e Minas Gerais.
A PF pediu também uma busca e apreensão contra o deputado Elmar Nascimento (União-BA), também negada pelo STF, que alegou não haver provas robustas o suficiente contra ele para justificar a medida.
Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) também é investigado, assim como o deputado Dal Barreto (União-BA), que teve o celular apreendido em outubro.
O deputado Elmar Nascimento nega as suspeitas contra ele e qualquer envolvimento com o esquema investigado, assim como os deputados Félix Mendonça Júnior e Dal Barreto.








