Por Marcelo Cavalcanti
(Parece paradoxal, mas, a História se revisita)
Eleito representando um grande movimento de reação ao revolucionarismo esquerdista, que seguia em maré montante, ameaçando assumir uma hegemonia definitiva na política brasileira. Para tanto, usou a estrutura formal de um partido pequeno, de programa liberal, que foi disponibilizado para satisfazer o rito eleitoral.
Seria ingenuidade imaginar, que haveria uma conformação aos limites, interesses e conveniências próprios dos cartórios partidários. O presidente montou, desde o início, o seu grupo próprio, capitaneado pelos filhos, cooptado a partir de afinidades políticas mais agudas, que desdenham a prática da negociação como método de ação política comum, cotidiana. Para isso, cunhou-se a expressão pouco criativa, chamada de “nova política”.
O presidente passou perto de três décadas no parlamento e sabe, sobejamente, que o jogo partidário é bruto em seus movimentos “tectônicos” e, simultaneamente, tem maneirismos e normas informais de convívio na construção e manutenção da coalizão governamental. O, então, deputado Bolsonaro passou décadas como um insurgente perante essas práticas imanentes à política brasileira. Daí, implementar um procedimento de exercício governamental suprapartidário, foi um passo previsível. Nisso, não foi inovador. Outros, assim, procederam. Porém, quase sempre souberam aquiecer diante de imperativos ditados pela cultura partidária nacional. No caso do Presidente Bolsonaro, esperar, imaginar tal acomodação, seria um exercício de ficção delirante.
Por mais que pareça insólito, o que assistimos é: Bolsonaro sendo Bolsonaro. Simples assim.
Isso significa o uso duro, pesado da representação que lhe foi dada pelas urnas, para suplantar o julgo partidário. Ao fazer isso, golpeia o princípio da coalizão negociada e impõe sua vontade política, sua vocação monocrática. O Presidente Bolsonaro tem representação, fundamento social consistente. Em uma tradução pós moderna, ele ressuscita o bonapartismo, sim. Isso é consciente, embora, não se use esse rótulo.
Nesse momento, há um imbróglio a ser administrado. O presidente é indefenestrável. Sejamos realistas. O presidente precisa construir meios efetivos de diálogo e negociação política. Não há autocracia à vista.
Portanto, radicalizar crises com obstruções perlamentares, não prospera.
O Presidente Jair Bolsonaro e seus desafetos conjunturais, necessitam de doses, repito, de temperança e de prática dialogal. O governo confia nos seus bons acertos executivos, na efetiva política econômica, na boa ressonância das medidas conservadoras. Não há tergiversação sobre isso. Todavia, urge construir e manter uma base congressual confiável, estável e, até, combativa. Não há escapatória de uma coalizão mínima. Afinal, o bonapartismo, hoje, é uma referência e não uma ressurgência.






