Ainda não se sabe ao certo o que foi perdido no incêndio que atingiu um galpão da Cinemateca Brasileira, na Zona Oeste de São Paulo, no fim da tarde desta quinta-feira. Mas em entrevista à GloboNews, o cineasta Roberto Gervitz, coordenador do grupo SOS Cinemateca, adiantou o que estava no acervo deste edifício anexo.
“Pode ter se perdido quatro toneladas da Documentos da história do cinema brasileiro, do Instituto Nacional do Cinema, da década de 1960. Quatro toneladas da história do nosso cinema”, lamentou Gervitz. “Há cópias de filmes que já estavam num estado pior de conservação, entre elas cópias do Canal 100, com filmes de futebol”.
Estima-se ainda que o galpão reunia 2 mil cópias de filmes, entre eles registros em 35 mm e 16 mm, procura com material altamente inflamável. Não serão, porém, os originais, e sim cópias feitas para exibições.
Também na GloboNews, Francisco Campera, diretor da Roquette Pinto (ex-administradora da Cinemateca), citou outra parte do material que estaria no galpão: “As primeiras câmeras que chegaram no Brasil no início do século XX, cópias de filmes do cinema mudo, registros da participação da Força Expedicionário Brasileira (FEB) na Segunda Guerra, arquivos da TV Tupi, de expedições do Marechal Rondon. E não só filmes do governo federal, mas também da prefeitura de São Paulo, filmes particulares de herdeiros, documentos, roteiros, cartazes … Até equipamentos de um século atrás “.
Tragédia anunciada
A Cinemateca já havia sido destruída por um incêndio em 2016, mas em outro endereço. Em 3 de fevereiro, o fogo destruiu 270 títulos e outras 461 obras que cópia de segurança no prédio principal da instituição, na Vila Clementino, Zona Sul da capital paulista.
Maior centro audivisual da América do Sul, a Cinemateca é responsável pela preservação de 40 mil títulos que contam a história do audiovisual do Brasil desde 1897. São filmes de curta, média e longa-metragens, além de programas de TV e registros de jogos de futebol.
A Cinemateca está fechada desde agosto do ano passado, quando expirou um contrato entre o governo federal e a organização social que administrava o local.
Uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal de São Paulo (MPF-SP) no mês seguinte estimava em 250 mil o tamanho do acervo de rolos de filmes no edifício da Vila Clementino.
A situação da instituição preocupava ainda mais, desde o ano passado, pelo imbróglio na administração da Cinemateca , que, após muita disputa, passado ao governo federal.
O diretor de “Feliz ano velho” (1987) e um dos organizadores do movimento SOS Cinemateca, Roberto Gervitz fez, no ano passado, um manifesto endossado por mais de 70 associações, entre elas os festivais de Berlim e Cannes. Na época, ele avisou da gravidade da situação.
– Estamos correndo o risco de viver um novo Museu Nacional. É uma tragédia anunciada – alertou Gervitz na época, em referência ao incêndio na instituição no Rio que transformou em cinza 20 milhões de itens de seu acervo em setembro de 2018.
A situação da Cinemateca não preocupava apenas os brasileiros. No Festival de Veneza do ano passado, o diretor do Festival de Cannes, o francês Thierry Frémaux, lamentou a situação da instituição :
– Quero expressar meu apoio à Cinemateca Brasileira, ameaçada pelo governo atual – disse ele em entrevista coletiva com os diretores dos sete maiores festivais de cinema da Europa.
O secretário especial da Cultura, Mário Frias, que está em Roma acompanhando o ministro do Turismo, Gilson Machado , na primeira cúpula dos ministérios da Cultura do G-20, não se pronuncie em suas redes sobre o incêndio. Além de Frias e Machado, integram a comitiva outros servidores do ministério, como o secretário Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura, André Porciúncula, um chefe da Assessoria Especial de Relações Internacionais do Ministério do Turismo, Débora Gonçalves.







