Da Redação do Blog — Numa reflexão poética profunda, o poeta Marcelo Mário de Melo nos convida a contemplar a efemeridade da existência por meio de seu poema intitulado “AS CINZAS”.
Leia:
Que cinzas restam de nós
no raiar da quarta-feira?
Quais as que olham de longe
estacadas na porteira?
Quais as guardadas no cofre
junto a pedras preciosas?
Quais as que endureceram
viraram pedras de gelo?
Quais as que sendo regadas
acendem flor no canteiro?
Quais as que foram largadas
junto a folhas ressequidas?
Quais as que sempre aquecidas
nos socorrem no inverno?
Quais as que se misturaram
em grãos de cinzas contrárias?
Quais espalhadas no corpo
aderiram à nossa pele?
Cada um pense e responda
do mais fundo do baú
onde sonhos e lembranças
colam colcha de retalhos.
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Marcelo Mario Melo, 79, é escritor, poeta, agitador cultural e resistente da ditadura militar.