De O Globo – A Polícia Civil de São Paulo está no encalço de César Mattar, de 70 anos, acusado por sócias do Club Athletico Paulistano, um dos mais tradicionais da capital, de aplicar golpes do amor em frequentadoras do local. O GLOBO localizou dois boletins de ocorrência registrados pelas vítimas. Procuradas pelo blog, ambas pediram anonimato por medo e vergonha. César, por sua vez, nega ter aplicado golpes, embora admita dever dinheiro às ex-companheiras.
A primeira mulher, uma enfermeira de 75 anos, moradora de Perdizes, conheceu César Mattar, que se apresentou como César Racy, pelo aplicativo de namoro Happn em 26 de julho de 2024. Duas semanas depois, ele a convidou para almoçar em um restaurante de luxo e insistiu em pagar a conta.
No decorrer do relacionamento, César alegou investir em aplicações internacionais com rendimento de 30% ao mês e, posteriormente, pediu dinheiro para liberar um contêiner retido no Porto de Santos por falta de pagamento, justificando que não queria comprometer seus investimentos. A enfermeira, convencida, emprestou dinheiro e também solicitou que ele fizesse aplicações rentáveis para ela.
Entre outubro de 2024 e janeiro de 2025, César desviou R$ 353 mil da vítima, sendo R$ 183 mil em cinco transferências via PIX e R$ 170 mil em três TEDs. A enfermeira registrou o caso no 96º Distrito Policial de Moema e afirmou: “Tudo o que eu quero é recuperar meu dinheiro.”
Em depoimento, ela disse que César afirmava ser empresário de 27 franquias, recém-chegado da Europa, e que teria saído do Brasil para fugir das dívidas deixadas pelos filhos. Ainda declarou que estava apaixonada, mas não chegou a ter relações sexuais com ele.
A vítima só descobriu que estava sendo enganada quando sua filha investigou as redes sociais e percebeu que César era amigo de outra sócia do Paulistano. Ao questioná-la, descobriu que ele mantinha relacionamentos simultâneos.
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A segunda vítima, uma empresária do agronegócio de 72 anos, namorou César por apenas três meses, tempo suficiente para ele conseguir R$ 100 mil, segundo boletim registrado na Delegacia Eletrônica em 18 de outubro de 2024. Além disso, a empresária forneceu um cartão de crédito ilimitado com senha e comprou para ele um carro de R$ 150 mil. O relacionamento só terminou quando o golpe foi descoberto.
No boletim de ocorrência da empresária, consta que César também a conheceu pelo Happn e justificou que não podia ter conta bancária em seu nome, convencendo-a a ceder acesso à sua conta no Itaú. Com sua autorização, instalou o aplicativo do banco no próprio telefone, garantindo acesso irrestrito às senhas e movimentações.
Uma simples pesquisa no sistema da Polícia Civil de São Paulo revelou que César Mattar é um estelionatário em série, com golpes registrados desde a década de 1970, quando tinha 26 anos. Seu histórico criminal inclui múltiplas condenações, prisões e fugas do sistema penitenciário.
Seu primeiro inquérito foi registrado em 1978, seguido por uma investigação por estelionato em 1980. Em 1990, foi condenado a 1 ano e 4 meses de prisão pela 27ª Vara Criminal de São Paulo, com prescrição da pena em 1999. Em 1996, foi condenado novamente por furto e sentenciado a 1 ano e 6 meses, cumprindo pena em 2000, em Santos. Em 2005, recebeu nova condenação de 2 anos e 11 meses da 30ª Vara Criminal de São Paulo, mas obteve alvará de soltura.
Em 3 de novembro de 2009, foi expedido um mandado de prisão pelo Juízo de Execução Criminal de Santos devido a uma fuga, sendo recapturado em 29 de março de 2011 no Centro de Progressão Penitenciária (CP) de Santos. Outra fuga ocorreu em 9 de maio de 2012, com recaptura apenas em 29 de julho de 2016. Ele foi localizado no bairro do Gonzaga, em Santos, durante uma operação da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), que averiguava golpes financeiros contra comerciantes e pessoas físicas na Baixada Santista.
Durante a operação, a polícia encontrou carnês de financiamento fraudulentos, cartões bancários, dispositivos para autenticação de compras e documentos falsificados. Na ocasião, constatou-se que havia quatro mandados de prisão expedidos contra ele.
Procurado pelo GLOBO, César negou ter aplicado golpes nas duas sócias do Paulistano. “Namorei as duas senhoras por amor e não posso ser julgado pelo meu passado. Não devo mais nada à Justiça, apenas dinheiro às minhas ex-namoradas, e estou disposto a negociar para pagar tudo em suaves prestações”, disse.









