Da Redação – Familiares, amigos e vizinhos de Rhaldney Fernandes da Silva Caluete e Bruno Henrique Vicente da Silva, mortos em uma ação do Bope na comunidade do Detran, em Iputinga, Recife, acreditam que os dois homens foram vítimas de um erro policial. Uma câmera de segurança do local registrou, na noite desta segunda-feira (20), o momento em que policiais militares arrombam o portão de uma casa, entram na residência e, posteriormente, retiram um corpo num lençol.
De acordo com a PM, os homens mortos são suspeitos de tráfico de drogas. Os policiais teriam ido ao local para verificar uma denúncia e, lá, teria havido uma troca de tiros em que os suspeitos morreram.
Em entrevista a um canal de televisão, o irmão de uma das vítimas afirmou que houve um engano por parte dos policiais e criticou a ação. “Eles [os policiais] chegam invadindo as casas, sem mandado, nem nada. Toda vez eles chegam para fazer isso, tanto o Bope como o Gate”, denunciou o morador.

Perguntado se o irmão tinha passagem pela polícia, ele desafiou, “Não tem. Pode puxar aí o histórico dele. Nunca foi preso com droga, com essas coisas, nunca… com nada, com nada mesmo. Meu irmão não mexia com nada de errado, não”.
No momento da abordagem, outros familiares estavam presentes, inclusive crianças. “Eram todos parentes. Minha irmã, minha mãe, minha sobrinha, minha afilhada… Tinha umas quatro crianças pequenas lá dentro”, contou o irmão de um dos homens mortos pelo Bope.
O morador conta que não estava presente no momento da invasão, mas narra detalhes de como aconteceu a abordagem dos policiais.
“Bora, bora, deita tudinho, deita!’. Já chegaram mandando deitar, ‘perdeu, perdeu…’, aí eles [os moradores] perguntaram, ‘perdeu o quê? A gente aqui não tem nada a ver com isso’. Aí botaram as mulheres para fora e mandaram os dois se ajoelharem, um perto do sofá e o outro do lado. E já chegaram atirando. Muito rápido. Só deu tempo deles fazerem a ação que eles queriam e ir embora mesmo. Deram tiro pra cima aqui ainda, para espantar a turma que estava olhando, e para ninguém ver, nem está filmando eles”.
O morador contou ainda que os policiais arrancaram algumas câmeras de segurança instaladas pelos próprios comunitários. “A turma da comunidade aqui está botando câmera nas esquinas e nas portas. Mas nós já vimos eles [policiais] arrancando tudo”.
Sobre a câmera que flagrou toda a ação, o morador acredita que só não foi arrancada pelos policiais porque não estava visível. “Não viram porque estava debaixo das telhas e do caibro”, explicou.
Uma mulher que também falou com a reportagem, disse que a família está fazendo um levantamento das imagens e dos depoimentos das testemunhas para fazer uma denúncia na corregedoria da polícia.
“Eu vou com certeza. Vou pedir um posicionamento da corregedoria, vou pedir um posicionamento de Raquel Lyra também. Eu só quero saber se está correto isso de entrar na casa de um pai de família, na casa de um morador, invadir, tirar todo mundo de dentro como se fosse lixo e acabar com a vida de dois jovens”, desabafou.

Ainda ontem (20), pouco tempo depois da ação da PM, moradores da comunidade protestaram na BR-101, nas mediações do Supermercado Atacadão, e incendiaram um ônibus às margens da via. Pneus e entulhos também foram queimados na pista. De acordo com a mulher ouvida pela reportagem, o protesto foi motivado pela revolta com a operação policial.
“Foi justamente pela revolta. A comunidade toda está revoltada com essa situação, porque a comunidade também conhecia os dois, por ter muita família aqui, os dois moraram aqui desde pequeno, todo mundo conhecia. Então a comunidade realmente se revoltou, se juntou, se revoltou”.
Repercussão
Na manhã desta terça-feira (21), a Secretaria de Defesa Social (SDS) prendeu nove policiais militares flagrados invadindo a casa. Eles tiveram as armas apreendidas e são ouvidos na Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DJPM), responsável por investigar delitos cometidos por militares.
De acordo com a Polícia Civil, o caso foi registrado como tentativa de homicídio e homicídio decorrente de intervenção policial e as investigações seguem “até o esclarecimento do caso”
Até a última atualização desta reportagem, a polícia não informou se havia algum mandado de prisão contra os homens. Na medida em que forem surgindo novas informações, essa matéria será atualizada.
Até a última atualização desta reportagem, a polícia não informou se havia algum mandado de prisão contra os homens. Na medida em que forem surgindo novas informações, essa matéria será atualizada.