Por Ricardo Antunes — O governo do PT acaba de criar nova metodologia de gestão: escolhe primeiro os ministros e somente depois decide que ministérios irão ocupar. É o que está ocorrendo com os deputados federais Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA). Ambos se reuniram ontem, em separado, com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que deve ter comunicado a escolha deles como ministros, em mais um avanço do Centrão sobre um governo que se declara de esquerda. Mas para quais ministérios, ainda não se sabe.
Já tinha acontecido o inusitado na primeira investida do Centrão nas mudanças ministeriais, apenas seis meses depois de instalado o novo governo: anunciou-se que a então ministra do Turismo, deputada Daniela Carneiro, a quem chegou a se atribuir relações com a milícia do Rio de Janeiro, iria ser demitida porque trocaria de partido, o União Brasil.
A deputada passou quase um mês como um fantasma no Ministério, numa situação absolutamente surreal: era titular, por direito, e ao mesmo tempo interina, de fato, porque ficou aguardando que o Palácio do Planalto oficializasse a escolha do seu substituto, o deputado Celso Sabino (PP-PA).
PARA ONDE?
Para onde irão o pernambucano Sílvio Costa Filho e o maranhense Fufuca? Ministério do Esporte, Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério dos Portos e Aeroportos, Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social? Três titulares desses ministérios não têm mandato parlamentar e, portanto, a saída deles não abalaria diretamente relações do Planalto com legendas partidárias: Ana Moser (Esportes), a pernambucana Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Márcio França (Portos e Aeroportos).

IMEXÍVEL
No Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias é praticamente imexível, por três razões: tem mandato de senador, é PT histórico, comanda um programa caro ao PT e altamente estratégico, o Bolsa Família.
NO OUTRO LADO DO MUNDO
Embora sem mandatos, Ana Moser e Luciana, contudo, estão ideologicamente ligadas ao PT. Mais: a ex-jogadora de vôlei está na Austrália, para acompanhar a abertura da Copa do Mundo de futebol feminino e o primeiro jogo da seleção brasileira, marcado para segunda-feira. Ser demitida trabalhando no outro lado do mundo seria de uma grosseria inominável.
CONFIRMADO
Dois nomes já estão confirmados independentemente de quem vai sair. Um deles é o deputado pernambucano, Silvinho Costa Filho (Republicanos-PE). Bastante habilidoso, ele é filho do ex-deputado e atual suplente da senadora Teresa Leitão, Silvio Costa. Silvio é bastante ligado ao presidente Lula e foi um guerreiro na luta contra o impeachment de Dilma Vana Rousseff.

CONFIRMADO II
O outro nome confirmado é do deputado André Fufuca (PP-MA), e muito ligado ao presidente da Câmara Arthur Lira. É um parlamentar também jeitoso e com boa interlocução na Câmara.
INFLAÇÃO PERNAMBUCANA
Se Luciana Santos ficar, o governo federal teria quatro ministros pernambucanos, um feito inédito: além dela e de Silvinho, José Múcio na Defesa e André de Paula na Pesca e Aquicultura.
FORÇA
Esse imbróglio em que está metido o Palácio do Planalto demonstra a força do Centrão. Tanto faz o governo ser de direita ou de esquerda, pouco importa: este aglomerado altamente fisiológico de uma dúzia de partidos de direita e centro-direita e cerca de 250 deputados é poderoso desde a Constituição de 1988.
FAZ E ACONTECE
Com mais ou menos parlamentares e partidos, de lá para cá, o Centrão, entre outros feitos, elegeu dois presidentes da Câmara posteriormente cassados (o pernambucano Severino Cavalcanti e Eduardo Cunha), ajudou a derrubar a petista Dilma Rousseff, barrou pedidos de impeachment do ex-presidente Michel Temer, continua nomeando ministros independente das cores ideológicas do governo de plantão.

ESQUEÇA O QUE EU DISSE
Em setembro de 1993, Lula acusou o Congresso de ter 300 picaretas. Voltou a dizer o mesmo em junho de 2016, numa manifestação pública contra o governo Michel Temer. Na convenção partidária que oficializou a candidatura de Jair Bolsonaro, em 2018, seu braço direito Augusto Heleno, general da reserva, parodiou um samba famoso, Reunião de Bacanas, cantarolando “se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão”, referindo-se ao Congresso.
TOMA LÁ, DÁ CÁ
Bolsonaro disse e repetiu que seu governo não praticaria o “toma lá, dá cá” com o Congresso, mas acabou botando o Centrão no ministério e no próprio Palácio do Planalto. À esquerda e à direita, como se vê, o “toma lá, dá cá” continua impávido colosso nas relações entre Executivo e Legislativo em Brasília.
COALIZÃO
Em artigo de 31 páginas, incluindo tabelas, publicado em 1988, o cientista político Sérgio Abranches definiu o regime político brasileiro como presidencialismo de coalizão, termo ressuscitado em tempos recentes, demonstrando ser inevitável, no caso do Brasil, o presidente da República fazer acordos com os partidos existentes no Congresso para governar. Abranches assinala que, se não for bem administrado, o presidencialismo de coalização pode gerar altas instabilidades.
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