*Por Rodrigo Casarin – Em crônicas, contos e romances, entregou ao leitor um humor fino, sempre em contato com seus irmãos mais ácidos: o sarcasmo e a ironia. As tiradas revelavam o olhar aguçado de Verissimo para as peculiaridades, contradições, absurdos e idiossincrasias das situações rotineiras, dos encontros e trombadas do dia a dia.
Nas muitas fases mais bicudas do país, esse olhar afiado também se voltava para a política e para as questões sociais. A leveza de Verissimo não o impedia de tratar de assuntos delicados, de expor podres e fustigar poderes. Sabia que é possível ser sério sem ser sisudo. Sempre atento, escreveu ainda em 1999:
“O tamanho do cérebro não determina, necessariamente, o tamanho da inteligência. O homem de Neandertal, que até pouco tempo era considerado nosso antepassado (hoje se especula que é o antepassado só de jogadores de rúgbi, aqueles cujo capacete protetor é o próprio crânio, e do Jair Bolsonaro) tinha um cérebro maior do que o nosso, além de uma estrutura óssea e muscular mais desenvolvida, mas não conseguia nem falar e deu em nada como espécie”.
A injustiça contra os jogadores de rúgbi foi cometida numa crônica para o Estadão, uma das casas que o abrigou. Ao longo da vida, também colaborou com veículos como Zero Hora, Jornal do Brasil, Veja e O Globo. Oscilando entre o conto e a crônica, se saiu com uma boa tirada:
“A discussão sobre o que é, exatamente, crônica é quase tão antiga quando aquela sobre a genealogia da galinha. Se um texto é crônica, conto ou outra coisa interessa aos estudiosos da literatura assim como se o que nasceu primeiro foi o ovo ou a galinha interessa aos zoólogos, geneticistas, historiadores, e (suponho) ao galo, mas não deve preocupar nem o produtor nem o consumidor. Nem a mim nem a você”.
Verissimo nos ganhava também pela simplicidade de seus textos. Tinha um estilo de raras firulas, cristalino, que não apresentava entraves ou empecilhos aos leitores. Isso ajuda a explicar o enorme sucesso feito por coletâneas como “Comédias Para Ler na Escola”, “As Mentiras que os Homens Contam” e principalmente “Comédias da Vida Privada”, livros que circularam incansavelmente entre a metade dos anos 1990 e o começo dos anos 2000.
Rodrigo Casarin é autor de A Biblioteca no Fim do Túnel e Colunista do Uol










