Por Fernando Castilho – JC Negócios
A imagem de Michel Temer ao lado de Rodrigo Maia e Renan Calheiros num começo de tarde de domingo, anunciando que Executivo e Legislativo não patrocinarão nenhum movimento em favor da aprovação de emenda de anistia a crimes relacionados a doação eleitoral, revela o nível de desgaste e erosão de credibilidade que, em apenas seis meses, o governo liderado pelo vice-presidente eleito na chapa de Dilma Rousseff chegou.
Por acaso deveriam patrocinar? Por alguma razão republicana deveriam aceitar a ideia de se aproximar de uma inciativa que pudesse sequer passar por perto da ideia de que receber dinheiro roubado é aceitável? Por alguma razão deveriam ir de encontro a um projeto de lei que é inciativa popular com mais de dois milhões de assinaturas de eleitores-cidadão-contribuintes?
Se estão vindo a público afirmar solenemente que não é porque avaliam que, para a sociedade, Executivo e Legislativo de alguma maneira estavam participando da iniciativa e que se fez necessário dizer que não. Se juntos, o presidente da Câmara e do Senado identificam a necessidade de se afirmar em contrário é porque, em algum momento, não se apresentaram suficientemente firmes nessa negativa.
O problema é que no Legislativo isso aconteceu. E na Câmara Federal, o próprio presidente da casa, ocupou-se em madrugadas de confabulações de conversas nesse sentido. E não fosse a reação da sociedade, seja pela imprensa seja pelas mídias sociais, seja pela oposição, o projeto teria sido colocado em pauta com amplas chances de ser votado. Até porque, através de manobras regimentais, os nomes dos que votariam sim não precisaram estar no placar eletrônico. Isso faz de Rodrigo Mais, hoje, participe ativo da ação legislativa que agora rechaça publicamente. Dito de outra forma: Maia está recuando de uma ação contra a transparência que ele mesmo perpetrou.
Renan Calheiros não é menos isento de ação semelhante pois decidiu colocar em pauta um projeto que, com a proposta de atualizar a legislação de comportamento do setor público, propõe restringir as ações do poder Judiciário (diga-se a Lava Jato) que ele sabe que, em algum momento, terá de prestar contas. Renan, como se sabe, responde a uma espetacular coleção de 12 investigações no Judiciário e não fosse a excrecência em que se tornou o foro privilegiado, dificilmente estaria no cargo e, por consequência a presidência do Congresso Nacional.
Isso faz dos dois representantes do Legislativo suspeitos de estarem em conluio com a inciativa que, mesmo num Congresso que se diz integralmente digitalizado, não tem nenhum responsável no sistema de registro da Câmara. Não estivessem implicados, ou não houvesse indicações de que estavam envolvidos na ação, não precisariam dizer o contrário.
Já o presidente Michel Temer encontra-se em situação mais grave. Após 180 dias, o governo é a sua cara. Empoado, caquético e forçosamente formal cuja pratica já não esconde a certeza de não se juntou aos bons.
Pode-se dize que Temer precisa fazer uma travessia até 2018 e terá que fazê-la com esse Congresso que está aí. É verdade, mas desde o primeiro dia Michel Temer não conseguiu agregar nenhuma imagem positiva de seriedade e transparência ao seu governo.
Se o móvel para a retirada de Dilma Rousseff foi a corrupção e suspeita de improbidade, o mandamento número um do mandato-tampão de Michel Temer teria que ser, obrigatoriamente, a transparência. O exemplo do certo e do republicano.
Mas como identificar isso no seu governo quando cinco dos seis ministros que precisou demitir estavam implicados em algum tipo de suspeita de envolvimento criminoso? Michel Temer conseguiu a proeza de em apenas seis meses parecer velho e sem credibilidade.
O problema é que ainda nos restam 25 meses de travessia. O problema é que ainda precisamos percorrer o caminho da retomada econômica. O problema é que Michel Temer, no campo político, não ajuda. Na verdade, atrapalha ou embaça quando não passa o que deveria passar: credibilidade.
O problema não é o envolvimento absurdo no caso de Geddel Vieira. O problema é que esse tem sido o comportamento-padrão de seu governo. Que exemplo Michel Temer deu ao país de credibilidade? Qual a ação que tomou no sentido de não compactuar com os movimentos de reação ao combate a corrupção?
É isso que está atrapalhando a retomada das ações econômicas. Sejamos sensatos: qual empresário se sente confiante em retomar negócios quando o noticiário político só vai na direção de tolerâncias políticas de Michel Temer?
Após seis meses, o que restou da esperança de retomada econômica é a capacidade da equipe econômica. De Pedro Parente, na Petrobras; de Maria Silvia Bastos, no BNDES; de Ilan Goldfajn, no Banco Central e de Henrique Meirelles, no Ministério da Fazenda. Mas o crédito deles está acabando exatamente porque o presidente não consegue aportar capital político.
E sendo assim, o capital de credibilidade da equipe econômica não tem como se remunerar. Na prática, entramos na fase de comer o principal, pois Michel Temer e seus amigos do Planalto se encarregaram de consumir os juros e os rendimentos. A foto patética dos três deste último domingo de novembro diz exatamente isso.







