*Por Dr. Misael Wanderley Jr. — O presidente Jair Bolsonaro é um homem de 66 anos e que está com um quadro que chamamos de Abdômen Agudo Obstrutivo. Por si só este quadro já representa alguma gravidade pois é eminentemente cirúrgico e de urgência. Por se tratar de um paciente de mais de 60 anos que apesar de ter um histórico de ser militar e teoricamente fisicamente bem preparado e sem comorbidades (doenças associadas) descompensadas como diabetes, hipertensão ou obesidade, não é irrelevante seu passado relativamente recente de múltiplas cirurgias abdominais causadas pelo atentado por arma branca que sofreu em setembro de 2018 de extrema gravidade e que quase lhe tirou a vida.
Relembrando aquele momento, o PR foi submetido a uma cirurgia de emergência com lesões de muita gravidade com perfurações no fígado, intestino e vasos mesentéricos (que nutrem seguimentos viscerais intestinais ). Encontrava-se em choque hipovolêmico (por perda de grande quantidade de sangue ) e que requereu, após reparo das lesões causadas pela “facada”, de uma colostomia (exteriorização de parte do intestino grosso através da parede abdominal) que precisou ser revista por outra cirurgia pouco tempo depois e cerca de alguns meses a reconstrução do trânsito intestinal através do fechamento dessa colostomia ( nova cirurgia abdominal – a terceira, no caso).
Com uma parede abdominal tão “sofrida” por estes seguidos e necessários procedimentos, o PR novamente precisou se submeter a uma outra cirurgia para corrigir uma hérnia na parede abdominal justificada por tais procedimentos em seu abdômen. É notório, por algumas fotos postadas via mídia social do PR sem camisa, a presença de cicatrizes dessas cirurgias em seu abdômen.

Tais múltiplos procedimentos propiciam uma condição que chamamos de aderências dos órgãos intra-abdominais cujo os mais prejudicados são os intestinos delgado e grosso ( os quais foram atingidos pela facada).
Um quadro de obstrução intestinal, é quando o trânsito intestinal fica obstruído, muito provavelmente por alguma dessas “aderências”, causando distensão das alças intestinais com acúmulo de gases e produtos da digestão causando um congestionamento, como num grande “engarrafamento” numa via expressa, exemplo.
A situação pode ser ainda agravada pois este quadro pode levar a um sofrimento de seguimentos do intestino por deficiência no suprimento sanguíneo para o mesmo, o que levaria a uma isquemia, necrose do intestino e perfuração do mesmo com vazamento do conteúdo intestinal para a cavidade abdominal levando a um quadro gravíssimo de peritonite (infecção de toda a cavidade abdominal).
Assim, quanto mais cedo o paciente for submetido ao tratamento melhor seu prognóstico.
Algumas vezes o tratamento não requer cirurgia mas apenas descompressão da obstrução por uma sonda que entra pela narina e vai até o estômago e um repouso absoluto na dieta. A observação dos parâmetros clínicos, laboratoriais e através da análise de exames de imagens são fundamentais para definir sobre o tratamento observacional ou uma intervenção cirúrgica se esta se impuser.
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Dr. Misael Wanderley Jr. é médico especialista em urologia, uro-oncologia e cirurgia robótica








