Do UOL – A propina paga a agentes públicos por contratos investigados pela Operação Overclean em Campo Formoso (BA) chega a R$ 7,9 milhões, segundo a Polícia Federal.
A PF aponta que o grupo criminoso ligado aos empresários Alex e Fabio Parente, donos da Allpha Pavimentações, pagou propina por dois contratos de pavimentação no município, pelos quais receberam R$ 51 milhões da prefeitura.
A empresa foi escolhida para executar dois contratos de pavimentação com emendas de relator enviadas em 2022 por indicação do deputado Elmar Nascimento (União-BA) por meio da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), estatal federal. As licitações foram realizadas pela Prefeitura de Campo Formoso, administrada por Elmo Nascimento (União), irmão do deputado. Na época, em 2023, seu primo, Francisco Nascimento (União), era secretário-executivo do município.
Francisquinho, que hoje é vereador, se uniu a Alex Parente e ao pregoeiro para fraudar as licitações e escolher a Allpha para as duas obras, mostram mensagens obtidas pela PF.
A fiscalização da Codevasf depois descobriu sinais de superfaturamento e falhas de execução nas obras de pavimentação.
Segundo informações enviadas pela PF ao STF (Supremo Tribunal Federal), onde tramita o caso, o grupo criminoso teria repassado ao menos R$ 7,9 milhões em dinheiro vivo como propina pelas fraudes.
Uma planilha registra que R$ 6,38 milhões foram para o “CAP / GAB CAMPO”, código associado a Elmo, R$ 493 mil a “AMAU”, Amaury Nascimento, ex-assessor de Elmar, R$ 318 mil a “FRAN / FRANC CAMPO”, Francisco Nascimento, e R$ 4 mil ao “PRE”, o pregoeiro Márcio Freitas dos Santos.
Na primeira fase da Operação Overclean, em dezembro de 2023, Francisco jogou uma sacola com R$ 220 mil em dinheiro vivo pela janela antes de ser preso. Em julho, a PF encontrou R$ 10 mil escondidos em seus sapatos. A investigação aponta que os pagamentos ocorriam de forma sistemática, com o transporte de valores ilícitos por meio terrestre e aéreo, através de um suposto operador financeiro dos Parente, Clebson Cruz de Oliveira.
Usando dados de geolocalização e mensagens trocadas entre os investigados, a PF localizou possíveis repasses de propina de Clebson a Francisco Nascimento em 2023, em 28 de dezembro, e em 2024, em 15 de agosto, 30 de agosto, 5 de setembro de 23 de setembro.
Em 28 de dezembro de 2023, por exemplo, Clebson informa a Francisquinho que está decolando e diz que tem uma encomenda para ele, além de outra entrega “exclusiva” para ele. O primo de Elmar responde que pode receber as duas entregas de uma só vez.
Já em 5 de setembro de 2024, Clebson informa a Francisco Nascimento que “tô com um negócio pra te entregar”. Eles se encontram pessoalmente mais tarde.
A investigação aponta também que, mesmo antes dos contratos de pavimentação, já havia indícios de que Elmo Nascimento recebia propina pelo contrato que a prefeitura tinha com a Larclean, empresa de limpeza urbana que também pertence a Alex e Fabio Parente, em maio de 2022.
Elmo teve um encontro com Clebson na garagem de um edifício em Salvador logo após a Larclean receber um pagamento da prefeitura. Além disso, os repasses do município à Allpha Pavimentações pela obra coincidem com a data anotada pelos investigados dos pagamentos indevidos, em 22 de novembro, 7 de dezembro e 27 de dezembro de 2023.
Elmar é investigado pela PF sob suspeita de ter se beneficiado financeiramente pelo envio da emenda a Campo Formoso. O ministro do STF Nunes Marques, porém, negou um pedido de busca e apreensão contra ele, afirmando que os indícios ainda seriam “circunstanciais”.
Com o mesmo argumento, Nunes Marques também negou o pedido da PF pelo afastamento de Elmo Nascimento do cargo de prefeito.
Elmar nega qualquer irregularidade. Em nota, o deputado disse que “desconhece eventuais aplicações indevidas de valores provenientes de emendas parlamentares, já que não compete a deputados federais realizar e organizar licitações municipais ou ordenar despesas municipais”.
“No mais, importante registrar que as especulações maliciosamente feitas pela Polícia Federal e criminosa e seletivamente vazadas à imprensa não foram referendadas nem pela Procuradoria Geral da República e nem pelo ministro relator, cujas manifestações devem merecer igual destaque e análise por parte da imprensa e de seus leitores.”









