Do g1 – Ao menos quatro dos nove policiais presos por invadir uma residência onde dois homens foram mortos a tiros na comunidade do Detran, na Zona Oeste do Recife, já foram investigados por outros casos de violência policial (veja vídeo acima). Seis dos agentes tiveram a prisão preventiva decretada pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) na quarta-feira (22).
A TV Globo teve acesso a documentos do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) em processos anteriores abertos contra os PMs, que são do Batalhão de Operações Especiais (Bope).
Um deles, referente a um processo que tramitou na Vara da Justiça Militar do estado, tinha entre os investigados o segundo sargento Josias Andrade Silva Júnior por conta de uma ocorrência que resultou na morte de um homem no dia 2 de julho do ano passado, em Ipojuca, no Grande Recife.
O caso aconteceu na Rua Cedro, em Porto de Galinhas, onde um efetivo da Polícia Militar foi cumprir um mandado de prisão contra um suspeito identificado como Diego Carlos da Silva.
Em depoimento na época, os policiais alegaram que, quando chegaram para fazer a abordagem, foram recebidos a tiros pelo suspeito, que, no confronto, foi atingido por cinco disparos de arma de fogo.
O juiz considerou que os PMs agiram em legítima defesa e pediu ao promotor Francisco Edilson de Sá Júnior o arquivamento do processo.
O segundo caso, que também acabou sendo arquivado, ocorreu no dia 2 de fevereiro deste ano e envolveu o terceiro sargento Carlos Alberto de Amorim Júnior e os soldados Brunno Matteus Berto Lacerda e Ítalo José de Lucena Souza.
Nessa ocorrência, foram investigados sete agentes por uma ação realizada no bairro da Guabiraba, na Zona Norte do Recife. Por volta das 20h30, três homens, identificados como Rivalnildo Francisco Torres, Avelino Rodrigues Souza Neto e Diego Felipe Alves dos Santos, morreram após entrar em confronto com o efetivo do Bope.
No processo, os policiais disseram que os suspeitos estavam com 180 pedras de crack, um revólver calibre 38, uma pistola, munições e balaclavas pretas. Depois do conflito, eles foram levados a um hospital, mas não resistiram aos ferimentos.
O Ministério Público avaliou que não houve crime e que os agentes atuaram em legítima defesa. Por isso, o caso foi arquivado.

Troca no comando do Bope
Por causa da ação na comunidade do Detran, a Polícia Militar anunciou, na quarta-feira (22), a saída do tenente-coronel Wambergson Correia Melo do comando do Bope, onde estão lotados os nove policiais envolvidos. O cargo foi ocupado interinamente pelo major José Rogério Diniz Tomaz.
A decisão foi anunciada horas depois de a Justiça decretar a prisão preventiva de seis dos nove agentes investigados. Entre esses policiais, que foram encaminhados ao Centro de Reeducação da Polícia Militar de Pernambuco (Creed), estão:
- Carlos Alberto de Amorim Júnior;
- Ítalo José de Lucena Souza;
- Josias Andrade Silva Júnior;
- Brunno Matteus Berto Lacerda;
- Rafael de Alencar Sampaio;
- Lucas de Almeida Freire Albuquerque Oliveira.
Já os outros PMs detidos, Jonathan de Souza e Silva, Carlos Fonseca Avelino de Albuquerque e Valdecio Francisco da Silva Júnior, receberam liberdade provisória, a pedido do Ministério Público.
Segundo o TJPE, esses três policiais terão de cumprir as seguintes medidas cautelares:
Comparecer perante o juiz que ficar responsável pelo processo, no primeiro dia subsequente à audiência e depois, mensalmente, para informar e justificar suas atividades;
Não se dirigir ao local onde ocorreu o fato e suas proximidades, devendo permanecer distantes dessas localidades, para evitar o risco de novas infrações;
Suspender as atividades profissionais, devendo restringir suas atuações à área interna do batalhão onde estão lotados, sem uso de arma de fogo.
Em nota enviada à TV Globo, o advogado Raimundo de Albuquerque, que atua na defesa de todos os policiais envolvidos, informou que discorda da decisão tomada na audiência de custódia e que vai recorrer.
Em apenas cinco dias, ao menos dez pessoas morreram e duas ficaram feridas em operações policiais no Grande Recife. Sobre oito desses casos, o diretor adjunto de Planejamento Operacional da Polícia Militar, coronel Fred Saraiva, disse que “isso não foi provocado pelo policiamento”.
Os casos são investigados pela Polícia Civil. Relembre abaixo:
20/11/2023: Dois homens morreram durante uma ação do Bope na comunidade do Detran, no bairro da Iputinga. De acordo com a Polícia Civil, os policiais abordaram os dois após uma denúncia de tráfico de drogas e porte de armas. Segundo a corporação, houve troca de tiros. Uma câmera de segurança registrou os agentes arrombando a porta da casa e, depois, saindo com os corpos das vítimas em um lençol (veja vídeo acima).
18/11/2023: Três homens morreram após serem baleados numa troca de tiros com agentes do 18º Batalhão da PM que apuravam denúncias de tráfico de drogas na comunidade de Salinas, em Porto de Galinhas. Segundo a corporação, eles foram levados a um hospital, mas não resistiram aos ferimentos.
17/11/2023: Um homem de 30 anos e uma mulher de 24 morreram após um tiroteio durante uma perseguição policial no bairro de Casa Amarela, na Zona Norte do Recife. Durante o confronto, uma mulher que passava pelo local também foi atingida por disparos.
16/11/2023: Três homens morreram e um ficou ferido durante uma ronda da radiopatrulha na Comunidade do V8, em Olinda. Segundo a corporação, eles atiraram contra o efetivo, que teria revidado e matado os suspeitos. Além dos quatro baleados, um quinto homem foi preso.