EXCLUSIVO, Por Luiz Roberto Marinho – Independente da investigação da Polícia Federal, um grupo de candidatos no Concurso Nacional Unificado (CNU) de 2024 analisou em detalhes os resultados e listou ao menos 15 denúncias de irregularidades, incluindo violação de prova numa escola do Recife, e 26 suspeitos aprovados no concurso.
Na investigação sobre o CNU, a Polícia Federal desbaratou uma quadrilha da Paraíba especializada em fraudar concursos públicos formada por uma família, chefiada pelo ex-policial militar Wanderlan Limeira de Sousa, preso num hospital em Campina Grande.
Também é investigada pela PF a pernambucana Lais Gisely Nunes de Araújo, de 31 anos, que acumula 14 aprovações em concursos com suspeitas de fraudes, incluindo uma vaga no TCE (Tribunal de Contas do Estado), que por causa dela anulou o concurso. No CNU, obteve o mesmo gabarito de Wanderlan Limeira de Sousa.
Entre as 15 irregularidades listadas em relatório pelo grupo de candidatos, ao qual o Blog teve acesso, está o vazamento de uma prova na EREM (Escola de Referência em Ensino Médio) Jornalista Trajano Chacon, no bairro do Cordeiro, na Zona Oeste.
A prova se destinava ao cargo de auditor fiscal do Trabalho, um dos mais concorridos do CNU, pelo salário superior a R$ 22 mil, e foi realizada de manhã e à tarde, com intervalo para almoço. De manhã haveria as provas discursivas e de conhecimentos gerais e à tarde a de conhecimentos específicos, a de maior peso.
Numa das salas, porém, as provas foram trocadas e a da tarde foi entregue de manhã, ficando em poder dos candidatos por 11 minutos – ou seja, quem estava na sala teve acesso antecipado ao teste de conhecimentos específicos que faria à tarde.
A violação da prova foi denunciada por uma candidata em áudio ao Cesrangrio, responsável pela elaboração das provas do CNU. A denúncia acabou não registrada na ata da sala, mas foi reconhecida pelo Ministério da Gestão, organizador do concurso.

O grupo de candidatos que elaborou relatório sobre os resultados do CNU constatou, com base numa amostra de 80 notas, “o incomum percentual”, conforme o dossiê, de 30% dos candidatos aprovados serem da Paraíba e Pernambuco, estados onde se concentrava a ação da quadrilha descoberta pela PF.
“Em um concurso de âmbito nacional, realizado em mais de 200 municípios, ter um terço das 80 melhores notas em duas das 27 unidades da federação não parece ser uma informação irrelevante”, descreve o relatório.
Afora a prova violada na EREM Jornalista Trajano Chacon, entre as outras 14 irregularidades listadas estão um pacote de testes que chegou na sala de uma escola em Manaus com lacre violado e, também em Manaus, outro vazamento de prova.
Encaminhada anonimamente ao Ministério Público do Pará, como permite a lei, outra denúncia anotada pelo relatório revela que no Colégio Universo, no bairro de São Brás, em Belém, uma mulher se dizendo fiscal entrou na sala, pediu ao fiscal uma prova que estava sobrando, sob a alegação de que precisava de um exemplar para levar à sala das Pessoas com Deficiência (PCD). Só que os testes para PCD estavam em lote separado e têm formato diferente da prova comum.
Nos 26 casos de candidatos suspeitos descritos no dossiê do grupo estão dois irmãos do Recife aprovados, um concurseiro que teve notas altas somente depois de ir morar no Recife, um candidato sem nenhum histórico em concurso que gabaritou em conhecimentos específicos, graduou-se em Direito em 2007, mas só obteve a carteira da OAB em 2023.
Estão listados também como suspeitos os casos de uma candidata com nota baixa em conhecimentos gerais e muita alta em conhecimento específico e outro que se declarou PCD, mas que teve vetada a inscrição como PCD em concurso para policial civil de Minas Gerais .








